São Paulo, segunda-feira, 24 de julho de 2006

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Mapa indica as áreas de atuação do PCC

Levantamento feito pelo governo mostra as regiões de influência no Estado dos líderes da facção e de seus colaboradores

Com essas informações, as forças de segurança do Estado adotaram estratégia para combater os "soldados" do grupo criminoso paulista

KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo paulista mapeou nos últimos meses as regiões do Estado de São Paulo nas quais integrantes ou colaboradores do PCC (Primeiro Comando da Capital) têm maior influência e conseguem mobilização para realizar ataques como os ocorridos em maio e neste mês. O objetivo é tentar impedir o aumento da facção criminosa do lado de fora dos presídios.
Esse mapeamento com a definição da área de atuação está hoje em poder de quase todos os chefes da polícia do Estado. Ele inclui os líderes do PCC e seus colaboradores diretos, como os seqüestradores Wanderson de Paula Lima, o Andinho -com forte influência na região de Campinas (95 km de SP) e investigado pela polícia pela morte do prefeito de Campinas Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT, em 2001- e Maurício Hernandez Norambuena, uma espécie de "consultor" das táticas de guerrilha repassadas à facção e condenado a 30 anos de prisão pelo seqüestro do publicitário Washington Olivetto, em 2001. Com essas informações, a polícia pretende estabelecer estratégias de combate aos "soldados" do grupo.
Para chegar aos dados que apontam a área de influência de cada um dos presos ligados à cúpula do PCC, as polícias Civil e Militar, em conjunto com o Departamento de Inteligência da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária), cruzaram informações de várias fontes: escutas telefônicas, fichas criminais dos líderes do grupo que apontam com quais outros criminosos eles foram presos e ainda uma grande quantidade de anotações que são apreendidas, dentro e fora das prisões, e nas quais constam telefones.
Outra frente utilizada pelas forças de segurança como fonte para criar o mapa de atuação dos criminosos filiados ao PCC no Estado são as apreensões de documentos que acontecem quando uma central telefônica clandestina utilizada por homens do grupo é descoberta.
Uma das estratégias da facção criminosa, repassada ao PCC quando parte dos dez seqüestradores do empresário Abílio Diniz dividiu celas com homens do grupo na extinta Penitenciária do Estado, no Carandiru (zona norte de São Paulo), é manter em atividade centrais telefônicas que possibilitem a transferência de chamadas entre detentos e criminosos em liberdade.
Nos próximos dias, graças aos documentos de parte da contabilidade do PCC apreendidos na semana passada, o mapa da influência da facção sofrerá alterações, principalmente com as atualizações das regiões norte e oeste da capital. Ali atuava a maior parte das 21 pessoas presas durante a operação feita pelo Deic (Departamento de Investigações Sobre o Crime Organizado) e pela Polícia Federal que resultou na apreensão dos documentos.
A divisão das áreas do Estado por parte dos líderes do PCC tem importância direta na arrecadação da facção. Somente no mês de maio, com a cobrança do "bicho papão" (uma espécie de imposto, alusivo ao Imposto de Renda) de seus filiados, a facção juntou R$ 224 mil vindos da contribuição de pontos de tráfico do Estado.
A contribuição mensal funciona como um "seguro criminal", ou seja, a boca-de-fumo ou o ladrão que paga o PCC passa a ter direito de receber proteção do grupo, na prisão ou fora dela -como diante de uma ameaça da perda do ponto.


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