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À noite, trabalho da polícia é como espantar moscas
JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO
APU GOMES
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
0h40, rua dos Andradas, cracolândia. A impressão inicial é a
de que a operação no local funciona. A rua está deserta, num
cenário bem diferente do habitual -centenas de noias perambulando pelas ruas, arrastando bugigangas e fumando
pedras de crack.
Mas não é bem assim. Sob a
luz amarela intermitente dos
semáforos, surge, do nada, um
grupo de maltrapilhos. Com
sorrisos debochados, andam
sem pressa, carregando caixas
de papelão, que usam como cabaninhas para disfarçar o consumo da droga. O "pega" (a tragada) custa R$ 1.
Eles aparecem de repente
porque estão se afastando do
carro da polícia, que tenta impedir a aglomeração. É como
espantar moscas. A polícia
vem, eles se dispersam para, logo depois, se aglomerarem novamente em outro local.
Há nove carros da polícia na
região. Um dos policiais comenta que o trabalho na madrugada "é muito difícil" e que
deveria ter a ajuda dos agentes
de saúde, como durante o dia.
À 1h15, umas 60 pessoas se
aglomeram em torno da estátua da praça Julio de Mesquita.
A reportagem pergunta a um
menino de uns dez anos o que
ocorre ali. "É ali que rola a "pedrada'", diz o garoto.
No ponto de ônibus da praça,
três garotas recebem moedas
de um homem enrolado em um
cobertor velho.
Outra garota, sai do bolo de
gente, e diz: "E eu nem apareci
na TV ainda... "
Um carro da polícia chega. Os
noias calmamente se dispersam. Em busca de novas concentrações, a polícia deixa a
praça, que em 15 minutos está
cheia de novo. E assim, nesse
vaivém, segue a cracolândia até
o amanhecer.
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