São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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À noite, trabalho da polícia é como espantar moscas

JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO
APU GOMES
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

0h40, rua dos Andradas, cracolândia. A impressão inicial é a de que a operação no local funciona. A rua está deserta, num cenário bem diferente do habitual -centenas de noias perambulando pelas ruas, arrastando bugigangas e fumando pedras de crack.
Mas não é bem assim. Sob a luz amarela intermitente dos semáforos, surge, do nada, um grupo de maltrapilhos. Com sorrisos debochados, andam sem pressa, carregando caixas de papelão, que usam como cabaninhas para disfarçar o consumo da droga. O "pega" (a tragada) custa R$ 1.
Eles aparecem de repente porque estão se afastando do carro da polícia, que tenta impedir a aglomeração. É como espantar moscas. A polícia vem, eles se dispersam para, logo depois, se aglomerarem novamente em outro local.
Há nove carros da polícia na região. Um dos policiais comenta que o trabalho na madrugada "é muito difícil" e que deveria ter a ajuda dos agentes de saúde, como durante o dia.
À 1h15, umas 60 pessoas se aglomeram em torno da estátua da praça Julio de Mesquita. A reportagem pergunta a um menino de uns dez anos o que ocorre ali. "É ali que rola a "pedrada'", diz o garoto.
No ponto de ônibus da praça, três garotas recebem moedas de um homem enrolado em um cobertor velho.
Outra garota, sai do bolo de gente, e diz: "E eu nem apareci na TV ainda... "
Um carro da polícia chega. Os noias calmamente se dispersam. Em busca de novas concentrações, a polícia deixa a praça, que em 15 minutos está cheia de novo. E assim, nesse vaivém, segue a cracolândia até o amanhecer.


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