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Ações por remédios caros favorecem ricos, diz estudo
Pessoas com maior poder aquisitivo conseguem medicamento na Justiça
Para autor de pesquisa, número crescente de processos garante a poucos vantagens sobre recursos escassos
CLÁUDIA COLLUCCI
UIRÁ MACHADO
DE SÃO PAULO
O crescente número de
ações judiciais para a aquisição de medicamentos aumenta as desigualdades do
sistema de saúde brasileiro.
Concentradas nas áreas
mais ricas do país, as ações
são sobretudo individuais,
focam excessivamente tratamentos de alto custo e em regra não favorecem as pessoas com as piores condições
socioeconômicas e as maiores necessidades em saúde.
As conclusões constam de
estudo do advogado Octavio
Luiz Motta Ferraz, professor
de direito da Universidade de
Warwick (Reino Unido), publicado em revista da "Harvard School of Public
Health" (EUA).
"A judicialização garante a
poucos, aos que têm acesso
mais fácil ao Judiciário, benefícios que o Estado não pode dar a toda a população, já
que os recursos são necessariamente escassos", afirma.
Em outro estudo (ainda
não publicado), Ferraz traduz a desigualdade em números. Os cinco Estados com
melhor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) concentram quase 75% dessas
ações em nível federal, embora representem cerca de
45% da população do país.
"Como a taxa de sucesso
dessas ações é altíssima, o
privilégio dos que buscam os
tribunais não é baseado em
nenhuma concepção de justiça, mas exclusivamente na
habilidade de recorrer ao Judiciário -algo que os mais
pobres e necessitados não
possuem", diz Ferraz.
De acordo com ele, a desigualdade se repete no nível
estadual: "As ações vêm das
regiões mais ricas dentro dos
Estados, e a população de Estados mais desenvolvidos recorre mais à Justiça."
A advogada Karina Bozola
Grou, gerente jurídica do
Idec, discorda dessa argumentação. Para ela, a maioria das pessoas que ingressam com ações no SUS não
tem condições financeiras de
bancar os tratamentos ou
não encontra os medicamentos na rede pública.
50 MIL, TODOS OS ANOS
Cerca de 50 mil pessoas
por ano recorrem à Justiça
para obter remédios de última geração -a tabela SUS
está desatualizada há quase
um década- ou drogas em
falta na rede pública. "Já vi
ação até para aspirina", diz
Sueli Dallari, da Faculdade
de Saúde Pública da USP.
De acordo com Grou, as
ações judiciais são importantes para levar o poder público
a rever políticas de saúde.
"Hoje existe uma demonização das ações. Os gestores
dizem que elas causam transtornos, que há gastos desnecessários. Por outro lado,
eles demoram para rever
seus protocolos clínicos e há
escassez de medicamentos."
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