São Paulo, sábado, 24 de julho de 2010

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Brasil identifica mais criminosos de outros países

Total de foragidos encontrados pela PF no país até junho chega a 127, marca recorde; em 2009, foram 42

Esforço do governo é uma tentativa de reverter imagem de que o Brasil é o paraíso de fugitivos estrangeiros

LUCAS FERRAZ
DE BRASÍLIA

Multiétnico, extenso e considerado atrativo para fugitivos estrangeiros, o Brasil identificou no primeiro semestre quase um procurado internacional por dia, índice recorde. Até o final de junho, a Polícia Federal extraditou ou deportou 127 procurados pela Interpol.
Essas pessoas se dividem em: 1) estrangeiros procurados pela Justiça de seus países; 2) estrangeiros que cometeram crimes no Brasil e fugiram; 3) brasileiros foragidos da polícia internacional; e 4) brasileiros que cometeram delitos internacionais em território nacional.
Dos identificados pela PF neste ano, 90 eram brasileiros, a maioria condenada por crimes como homicídio, tráfico de drogas e de pessoas (para fins de prostituição). Entre os estrangeiros, predominam os delitos sexuais.
No ano passado inteiro, a PF identificou apenas 42 procurados da Interpol.
Do carrasco nazista alemão Josef Mengele, passando pelo mafioso italiano Tommaso Buscetta, ao traficante colombiano Juan Carlos Abadía e ao ladrão inglês Ronald Biggs, o país é destino de tantos criminosos estrangeiros que a reputação se popularizou até no cinema.
As autoridades também temem a presença de terroristas no Brasil. O esforço é uma tentativa de reverter essa imagem -apesar de esbarrar em limitações na legislação.

SISTEMA INTERLIGADO
No final de 2009, o governo lançou o programa Fim da Linha (sistema de banco de dados interligado 24 horas), que reforçou os canais de comunicação com as polícias do mundo. Isso elevou o total de prisões e deportações.
Um dos casos mais emblemáticos foi a extradição para o Brasil, em março, do médico Hosmany Ramos, preso na Islândia ao tentar entrar no país com documentos falsos. Condenado por roubo, tráfico e assassinato, foi preso quando fugia.
No último mês, a PF deteve uma quadrilha brasileira de tráfico internacional de animais silvestres.
No sistema da Interpol, constam hoje 325 brasileiros procurados no exterior.
Abadía, extraditado em 2009 para os EUA, não foi o único megatraficante colombiano preso no Brasil.
Em abril deste ano, após compartilhar informações com a polícia americana, a PF prendeu Nestor Ramon Chaparro, um dos quatro maiores traficantes do país vizinho. Ele foi flagrado numa cobertura de luxo no Rio.
Chaparro ainda está preso no país, à espera do trâmite da extradição para os EUA.
Outro procurado detido recentemente, na Bahia, foi um italiano condenado à prisão por abusar sexualmente da própria filha, de quatro anos.
"A ideia principal é trabalhar para mostrar ao mundo que não somos mais um paraíso para os criminosos internacionais", diz José Ricardo Botelho, diretor-chefe da Interpol no Brasil.
Um dos resultados do Fim da Linha foi a agilidade na troca de informações. Como no caso de um brasileiro preso em Lisboa, por assalto. Checando os dados a pedido das autoridades portuguesas, a PF descobriu que o passaporte dele era falso.
"Ele era fugitivo das Justiças de Minas e do Espírito Santo, condenado por extorsão mediante sequestro e homicídio. Descobrimos isso em 16 horas. Antes, essa troca de informações levava de dois a três anos", diz Botelho.


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