São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

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ANÁLISE

Impacto social das construções costuma ser ignorado no país

CLAUDIO ANGELO
DE BRASÍLIA

Os acrianos têm uma explicação para a quantidade de pessoas de olhos claros no interior do Estado: dizem tratar-se de herança da era da borracha, quando prostitutas eram trazidas da França para animar os barracões.
Henry Ford, ao instalar seu megaempreendimento de produção de borracha no Pará na década de 1920, ignorou esse fato elementar da natureza humana e tentou proibir o álcool, a prostituição e o jogo entre seus milhares de empregados.
Enfrentou greves e rebeliões como resultado e, no final, teve de se conformar com a instalação de um centro de diversões chamado "Ilha da Inocência" -que como conta o historiador Greg Grandin, tinha esse nome porque "ninguém lá era inocente"- no rio Tapajós, na vizinhança de sua Fordlândia.
A transformação do Brasil num imenso canteiro de obras tem pendido mais para Ford do que para os seringalistas do AC quando se trata de prever e mitigar o impacto causado pelo afluxo de milhares de homens solteiros para as frentes de construção.
Os EIA-Rimas (estudos e relatórios de impacto ambiental) em geral subestimam a quantidade de atraídos para as obras. E não mencionam que a multiplicação dos bordéis é uma das primeiras etapas da construção.
Como as chamadas ações antecipatórias -que deveriam preparar a região para receber a obra- nunca são cumpridas antes da licença, o roteiro de caos trabalhista, exploração sexual e pressão sobre saúde, educação e recursos naturais se repete.
Que o diga Rondônia, onde os homicídios cresceram 44% e os estupros, 76% entre 2008 e 2010, após o início das usinas de Santo Antônio e Jirau, como mostrou a Folha.
A bola da vez é Belo Monte, em Altamira (Pará).
Antes da licença, vários pareceres do Ibama acusavam o consórcio Norte Energia de não ter um cálculo adequado do número de pessoas a serem atraídas à região. A licença saiu, mas o Rima da usina passa longe dos termos "violência" e "prostituição", focando em "empregos".


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