São Paulo, domingo, 24 de julho de 2011

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Pressão por metas causou acidente na Braskem, diz auditor

Relatório do Ministério do Trabalho aponta que fábrica operou em situação de risco para ter mais resultados

Empresa diz que não houve negligência; para Promotoria, as provas apontadas em relatório por auditor são fortes

ELIANE TRINDADE
ENVIADA ESPECIAL A MACEIÓ

Auditoria do Ministério do Trabalho e Emprego responsabiliza a Braskem pelos dois acidentes ocorridos na unidade de cloro-soda de Maceió (AL), em maio.
O relatório assinado pelo auditor Elton Costa aponta a pressão por resultados como causa de fundo das duas explosões na fábrica. "Há indícios de que houve pressão por resultados para não interromper a produção em uma situação de extremo risco", afirma o auditor.
Mais de 200 vítimas do vazamento de gás cloro, resultado do primeiro acidente, ajuizaram 11 ações contra a empresa, conforme a Folha revelou ontem.
O relatório do ministério critica a forma de remuneração do PRL, o programa de participação nos lucros e resultados. A parcela operacional responde por 80%, envolvendo produção, custos e paradas. A segurança no processo compõe apenas 3%.
A auditoria também diz haver "fortes indícios de que a PRL, da maneira como está montada, pode induzir os empregados a uma postura tendente ao risco, quando confrontados com situações que exijam certas decisões operacionais".
As conclusões foram encaminhadas ao Ministério Público e ao Poder Judiciário. "Eles vão ter de apurar se a responsabilidade é da operação e da engenharia ou envolve também a diretoria", diz Costa.

VOO CEGO
A questão central foi a decisão de manter a produção de cloro mesmo diante de um grave problema de aumento de umidade na fábrica.
"A unidade estava operando em voo cego, já que lidava com um problema de alta umidade no sistema, uma situação de extremo risco", afirma o auditor.
Outra falha apontada no relatório concluído em 27 de junho é a decisão de manter fora de operação por cem horas um equipamento essencial à segurança.
Trata-se do refervedor, aparelho responsável pela degradação da tricloramida, subproduto da fabricação de alto poder explosivo.
"Havia uma alta concentração desta substância tão instável e explosiva quanto a nitroglicerina nos equipamentos que explodiram", afirma Costa.
O procurador do trabalho Rodrigo Alencar está analisando o material produzido pelo Ministério do Trabalho. "As provas apontadas na auditoria são fortes e agora vamos confrontá-las com o relatório apresentado pela Braskem", diz Alencar.
O relatório do ministério mostra também que a quantidade de gás cloro liberado após a primeira explosão ultrapassou em muito os 3,0 ppm (partícula por milhão), limite detectado pelos sensores da fábrica.
Pelas normas brasileiras, 0,8 ppm é o tolerável. Acima de 2,4 ppm é nocivo à saúde.


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