São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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ACIDENTE
Arma caseira usada por aluno em uma encenação disparou
Professora é morta durante aula na BA

CHRISTIANNE GONZÁLEZ
da Agência Folha, em Salvador

Um tiro acidental dentro de uma sala de aula provocou na noite de anteontem a morte da professora de história Lucineide Ferreira Souza, 35, no Colégio Municipal de Camacã (510 km ao sul de Salvador).
A professora foi baleada com um tiro de espingarda durante uma aula para alunos do ensino médio (antigo 2º grau) do curso noturno. O disparo ocorreu enquanto a arma estava em mãos do estudante Ciro Sérgio Souza Carrilho, 20, que havia acabado de apresentar um trabalho cênico sobre a Revolução Francesa.
Na peça, Ciro Carrilho fazia o papel de um revolucionário que se rebelava contra a monarquia. Sua atuação previa uma luta armada contra seguranças do rei da França.
A polícia informou que a arma utilizada na encenação era de fabricação caseira, tinha dois canos para disparo e pertencia à escola. Ela teria sido usada com o consentimento da professora.
"Durante a encenação, o estudante acionou um dos canos da arma várias vezes, sem que nenhum disparo tenha sido feito. O problema é que o outro cano estava carregado, e ninguém sabia", disse Laura Virgínia Reis Brito, escrivã de polícia.
Laura informou que o tiro que atingiu o tórax da professora foi disparado após a apresentação, enquanto Lucineide comentava o trabalho com os alunos.
"Ainda não tivemos tempo de ouvir os funcionários e dirigentes da escola para saber por que a arma estava carregada, mas estamos convictos de que o tiro foi acidental", disse a delegada Celina Rocha, que enviou ontem a espingarda para a perícia técnica.
A delegada informou também que, antes de morrer, Lucineide disse à colega Noélia Xavier que o estudante não teve intenção de atirar.
Parentes do estudante disseram à polícia que, inicialmente, Ciro Carrilho não pertencia ao grupo que apresentou o trabalho. Ele teria sido chamado para atuar na peça na última hora, sem ter participado dos ensaios.
A professora morreu em consequência de hemorragia interna, cerca de 30 minutos após o disparo, a caminho do hospital Calixto Midlei, em Itabuna (sul baiano).
A professora foi enterrada na tarde de ontem, no cemitério de Camacã. A prefeitura decretou luto oficial na cidade por três dias.
"Foi uma fatalidade, mas deve servir de lição para que outros estudantes não utilizem armas de fogo em nenhuma situação. Espero que essa morte sirva como um alerta para mestres e dirigentes escolares", afirmou a delegada.


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