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SAÚDE
Método inédito age na prevenção e no tratamento da doença; testes em humanos devem começar dentro de 1 ano
USP cria nova vacina contra tuberculose
ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão
Uma equipe de pesquisadores
da Faculdade de Medicina da USP
(Universidade de São Paulo) de
Ribeirão Preto (319 km de SP)
acaba de desenvolver uma vacina
inédita contra a tuberculose que,
além da prevenção, serve para o
tratamento de doentes.
O desenvolvimento da vacina
gênica, ou vacina de DNA, foi
coordenado pelo professor Célio
Lopes Silva, 46, em um trabalho
iniciado em 1991. Testes realizados em ratos e coelhos com 100%
de eficácia.
O novo método de combate à
doença é baseado na aplicação de
um pedaço do DNA do bacilo em
animais, induzindo o organismo
à produção de uma proteína antigênica que combate a infecção.
Mutações
A vacina BCG (desenvolvida na
década de 20) e as drogas usadas
até agora não deram resultados
satisfatórios contra os bacilos
que, ao longo dos anos, sofreram
mutações e se tornaram mais resistentes.
As mutações são geradas pelo
abandono no tratamento de pessoas com a doença, que demora
em média seis meses.
"Testamos a terapia gênica em
animais com todos os tipos de bacilos, inclusive os mais resistentes,
e tivemos uma eficácia perfeita. A
vantagem é que o tratamento
com a vacina gênica dura a metade do tempo", disse o professor.
Em todo o país, estima-se que
56 milhões de pessoas estejam infectadas pela Mycobacterium tuberculosis, a mais frequente bactéria que causa a doença. Entretanto, apenas de 10% a 20% desenvolverão a doença.
Segundo o coordenador da pesquisa, os bacilos podem sobreviver por anos em estado de latência dentro do organismo.
Quanto mais debilitada estiver
a pessoa, maiores as chances de a
tuberculose se manifestar. Por esse motivo, portadores do vírus da
Aids e pessoas subnutridas têm
mais chances de desenvolver a
doença.
Uso em humanos
A vacina gênica deverá começar
a ser testada em seres humanos
dentro de um ano e, em dois anos,
poderá já estar no mercado.
"Teremos de realizar novas pesquisas genéticas. O objetivo é que
possamos testar a vacina em pessoas que possuam tuberculose e
sejam resistentes a todas as drogas", disse o professor.
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi construído no campus
da USP em Ribeirão Preto um laboratório específico para o trabalho com vacinas gênicas, com verba da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo), que investiu cerca de R$
600 mil no trabalho.
No ranking dos 22 países com
maior incidência de tuberculose
da OMS (Organização Mundial
da Saúde), o Brasil ocupa a 10ª posição. Esses 22 países concentram
80% dos casos estimados no
mundo.
Em 1997, foram notificados
83.309 casos de tuberculose no
Brasil, que causaram pelo menos
6.000 mortes. Os dados de 98 ainda não foram divulgados.
O Ministério da Saúde estima,
entretanto, que a incidência da
doença seja de 129 mil casos por
ano, uma vez que o índice de subnotificações ainda é alto.
O Sudeste concentra a maioria
(47,7%) dos casos de tuberculose
registrados no país em 97, com
39,7 mil notificados. O Nordeste
aparece em segundo lugar, com
24.015 casos, equivalentes a 28,8%
dos 83,3 mil notificados.
Os Estados campeões de registro são, nesta ordem, São Paulo,
Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.
Colaborou DANIELA FALCÃO
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