São Paulo, Sábado, 24 de Julho de 1999
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SAÚDE
Método inédito age na prevenção e no tratamento da doença; testes em humanos devem começar dentro de 1 ano
USP cria nova vacina contra tuberculose

ALESSANDRO BRAGHETO
da Folha Ribeirão

Uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) de Ribeirão Preto (319 km de SP) acaba de desenvolver uma vacina inédita contra a tuberculose que, além da prevenção, serve para o tratamento de doentes.
O desenvolvimento da vacina gênica, ou vacina de DNA, foi coordenado pelo professor Célio Lopes Silva, 46, em um trabalho iniciado em 1991. Testes realizados em ratos e coelhos com 100% de eficácia.
O novo método de combate à doença é baseado na aplicação de um pedaço do DNA do bacilo em animais, induzindo o organismo à produção de uma proteína antigênica que combate a infecção.

Mutações
A vacina BCG (desenvolvida na década de 20) e as drogas usadas até agora não deram resultados satisfatórios contra os bacilos que, ao longo dos anos, sofreram mutações e se tornaram mais resistentes.
As mutações são geradas pelo abandono no tratamento de pessoas com a doença, que demora em média seis meses.
"Testamos a terapia gênica em animais com todos os tipos de bacilos, inclusive os mais resistentes, e tivemos uma eficácia perfeita. A vantagem é que o tratamento com a vacina gênica dura a metade do tempo", disse o professor.
Em todo o país, estima-se que 56 milhões de pessoas estejam infectadas pela Mycobacterium tuberculosis, a mais frequente bactéria que causa a doença. Entretanto, apenas de 10% a 20% desenvolverão a doença.
Segundo o coordenador da pesquisa, os bacilos podem sobreviver por anos em estado de latência dentro do organismo.
Quanto mais debilitada estiver a pessoa, maiores as chances de a tuberculose se manifestar. Por esse motivo, portadores do vírus da Aids e pessoas subnutridas têm mais chances de desenvolver a doença.

Uso em humanos
A vacina gênica deverá começar a ser testada em seres humanos dentro de um ano e, em dois anos, poderá já estar no mercado.
"Teremos de realizar novas pesquisas genéticas. O objetivo é que possamos testar a vacina em pessoas que possuam tuberculose e sejam resistentes a todas as drogas", disse o professor.
Para o desenvolvimento da pesquisa, foi construído no campus da USP em Ribeirão Preto um laboratório específico para o trabalho com vacinas gênicas, com verba da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), que investiu cerca de R$ 600 mil no trabalho.
No ranking dos 22 países com maior incidência de tuberculose da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Brasil ocupa a 10ª posição. Esses 22 países concentram 80% dos casos estimados no mundo.
Em 1997, foram notificados 83.309 casos de tuberculose no Brasil, que causaram pelo menos 6.000 mortes. Os dados de 98 ainda não foram divulgados.
O Ministério da Saúde estima, entretanto, que a incidência da doença seja de 129 mil casos por ano, uma vez que o índice de subnotificações ainda é alto.
O Sudeste concentra a maioria (47,7%) dos casos de tuberculose registrados no país em 97, com 39,7 mil notificados. O Nordeste aparece em segundo lugar, com 24.015 casos, equivalentes a 28,8% dos 83,3 mil notificados.
Os Estados campeões de registro são, nesta ordem, São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Minas Gerais.


Colaborou DANIELA FALCÃO

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