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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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SAÚDE

Questionário ajuda a medir intensidade da dependência de usuário de cocaína, o que pode auxiliar no tratamento

Unifesp cria escala para medir "fissura"

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL"

Uma vontade intensa capaz de levar a pessoa a buscar o "objeto" do desejo a qualquer preço e que pode, no caso de não obtê-lo, provocar um estado subjetivo de grande insatisfação e sofrimento.
No geral, esse desejo, de diferentes intensidades, está associado ao uso de drogas, lícitas ou ilícitas, mas também ao jogo, ao cigarro ou ao sexo compulsivo.
Essa sensação, descrita desde 1987 pela Associação Psiquiátrica Americana, é a "fissura" ou "craving", em inglês. Ela é um dos componentes da dependência, por isso conhecê-la melhor e avaliar sua intensidade podem ajudar no tratamento de dependentes.
Uma equipe da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) acaba de validar para o Brasil um questionário que permite ao consumidor de cocaína saber qual é seu nível de "fissura" e, consequentemente, em qual faixa de risco se encontra.
"Todo uso de droga é danoso, por isso o questionário serve para alertar aqueles que acreditam estarem fora de perigo", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do trabalho e do Programa de Orientação e Assistência a Dependentes da Unifesp.
Estudo de José Galduroz e outros, de 2000, estimou em 1,2% o número de pessoas da população paulista em geral que usaram cocaína uma vez na vida. Silveira acredita que esse número seja subestimado, por conta de um "contingente significativo de profissionais" que consomem cocaína "de forma recreacional ou esporádica, de maneira absolutamente anônima e clandestina".
A maioria desses usuários se mantém produtiva e socialmente adaptada, diz Silveira. "Mas uma minoria acabará por se tornar dependente."
O questionário, publicado nesta página, se propõe justamente a identificar aqueles que se encontram em "situação de vulnerabilidade" para a dependência. O questionário permitiria que o próprio usuário, diante dos resultados, procurasse ajuda médica.
Segundo Silveira, o questionário é oferecido em empresas e universidades nos EUA e na França, de forma que as pessoas, mantendo-se no anonimato, possam avaliar seus riscos e procurar ajuda.
O teste é composto por 12 perguntas aparentemente ingênuas e repetitivas, mas capaz de identificar com bastante segurança o nível de fissura.
Para validar o questionário, Silveira e sua equipe trabalharam com vários testes usados internacionalmente, até chegar a um que foi aplicado numa amostra de 205 usuários de cocaína. Parte da amostra já era dependente e parte era consumidora eventual.
A cocaína é uma das drogas mais nocivas e que chega a provocar dependência em cerca de 40% a 50% dos que a usam -no caso do álcool e da maconha, esse índice é de 10%. "Uma vez instalada a dependência, o índice de sucesso dos tratamentos fica em torno de 30%", diz Silveira.
Além de alertar para o risco de dependência, o questionário também permite avaliar se a pessoa em tratamento está melhorando ou piorando. Por exemplo, quanto maior o tempo entre um uso e outro, "menor a fissura e mais fácil de controlá-la", diz Silveira.

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