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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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ENTREVISTA

Especialista norte-americano diz que erradicação traz riscos

Agente tem efeito protetor, diz médico

DA REPORTAGEM LOCAL

A relação da bactéria H. pylori com o câncer gástrico foi um dos principais assuntos abordados no simpósio How close are we from cancer cure (Quão perto estamos da cura do câncer), que ocorreu nesta semana como parte das comemorações dos 50 anos do Hospital do Câncer de São Paulo.
O evento reuniu vários oncologistas estrangeiros, entre eles o médico norte-americano Martin Blaser, 54, professor de microbiologia da Escola de Medicina da Universidade de Nova York.
Considerado uma das maiores autoridades no mundo em H. pylori, Blaser alerta para a erradicação indiscriminada da bactéria. Para ele, o microrganismo tem efeito protetor contra algumas doenças do esôfago.
Blaser também é responsável por um dos mais abrangentes estudos sobre a história da bactéria, surgida há pelo menos 11 mil anos. Segundo ele, a H. pylori teria chegado ao continente americano com os primeiros povos que migraram do leste da Ásia. Estudos anteriores sugeriam que os europeus teriam sido os primeiros a trazer a H. pylori à costa da América do Sul.
Ele acredita que, na América, a bactéria foi transmitida de geração para geração entre os indígenas. A seguir, alguns trechos da entrevista dada à Folha. (CC)

Folha - Para quais casos o tratamento da infecção provocada pela bactéria H. pylori é indicado?
Martin Blaser -
O tratamento é necessário para quem tem úlcera gástrica. Esse é o único grupo com indicação. Como eu discuti na minha apresentação [durante o simpósio], ter o H. pylori no estômago pode aumentar o risco de úlcera e câncer do estômago.
Mas a presença da bactéria também parece proteger o indivíduo contra algumas doenças do esôfago. A erradicação da H. pylori pode levar à doença do refluxo e ao adenocarcinoma do esôfago. O foco das minhas pesquisas é explorar a biologia da colonização da H. pylori e a natureza dessa interação que leva a uma doença e que, ao mesmo tempo, protege contra outra. Para isso, contamos com a ajuda da biologia molecular, genética e matemática.

Folha - Há perspectivas de quando haverá uma vacina que proteja as pessoas contra essa bactéria?
Blaser -
Há trabalhos sendo desenvolvidos nesse sentido, mas a situação não é tão clara. Eu tenho medo de que, se eliminarmos a H. pylori, estaremos diante de uma epidemia da doença do refluxo e de câncer estomacal no futuro. É preciso mais pesquisas científicas que nos digam quais pessoas precisam ter a bactéria eliminada, quais precisam conviver com ela e quais precisam tê-la de volta.

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