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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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LEI SECA

Depois das 23h, pontos de venda de álcool na periferia funcionam de portas fechadas; fiscais fazem blitze todas as noites

Em Diadema, fresta de luz denuncia bar

Flávio Florido/ Folha Imagem
Blitz na periferia de Diadema, onde a restrição ao funcionamento de bares já existe há um ano


DA REPORTAGEM LOCAL

Diadema, 23h. É hora de sair à procura de bares que desrespeitam a "lei seca". Em comboio, dois carros da Guarda Civil, um da fiscalização municipal e outro da Polícia Militar seguem para a região escolhida para a blitz.
Um fiscal explica que quinta-feira não é o melhor dia para encontrar infratores. Nos finais de semana, eles chegam a fechar cinco bares em uma única noite.
Nem bem a força-tarefa sai, encontra um bar "camuflado" -portas fechadas, luzes acesas e barulho de conversas. Os guardas explicam que é preciso estar atendo às frestas de luz para descobrir quem está fugindo da lei.
O inspetor da guarda bate na porta e avisa que é a fiscalização. Quando a porta sobe, 13 pessoas estão lá dentro. "A gente trabalha até 22h, temos um time e só agora conseguimos fazer uma reunião", afirma a proprietária Ivete Antunes de Paula, 49.
Todos são revistados pela PM e liberados. O bar, que funciona há pelo menos um ano sem alvará do município, é apenas notificado. Da segunda vez, receberá multa de R$ 125. Na terceira, o valor irá dobrar, e na quarta o estabelecimento será lacrado por um ano.
O número de pessoas ali ajuda a entender por que os fiscais não saem sozinhos para fiscalizar à noite. Trabalham em trio, escoltados por mais oito guardas municipais e dois PMs. Só a coordenadora desse trabalho, a advogada Regina Miki, disse ter registrado quatro boletins de ocorrência na polícia por causa de ameaças.
"Eu não sabia da lei", disse à Folha José Miguel da Silva, operador de máquinas, que transformou a garagem em um bar. Ao ser questionado se achava válida ou não a medida, porém, respondeu como se a conhecesse: "Para mim está ótimo. Pelo menos a violência está bem menor."
O comboio da fiscalização segue perseguindo frestas em portas de bares, passando por vielas estreitas e escuras da periferia.
Na divisa de São Paulo, encontram um bar com as luzes acesas, em frente à favela Paraguai. O dono diz que está tomando cerveja com a mulher e o primo. Mas o parente some tão logo vê a fiscalização pedir os documentos deles.
Irritado, o proprietário não quer abrir a porta nem apresentar documentos do bar. É a segunda vez que é notificado em apenas um mês. Cede e recebe o documento da fiscalização.
Em uma hora e meia, a fiscalização roda 22 km, notifica dois bares e pára em cinco pontos suspeitos -em um deles, um funcionário que dormia no bar assistia TV.
O trabalho segue normalmente até 2h ou 3h, dependendo do dia. Toda noite tem blitz em Diadema.

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