São Paulo, quinta-feira, 24 de agosto de 2006

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Policial é condenado a 543 anos por chacina no RJ

João Laet/Agência O Dia
No julgemento, o PM Carlos Jorge Carvalho, de cabeça baixa, conversa com seu advogado


Soldado foi considerado responsável pela morte de 18 das 29 vítimas na Baixada Fluminense

Decisão dos sete jurados foi unânime; outros quatro acusados de participação nos atentados devem ser julgados até o final do ano


TALITA FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DA FOLHA

O soldado PM Carlos Jorge Carvalho, 32, foi condenado ontem a 543 anos de prisão pelo envolvimento na chacina da Baixada Fluminense, que deixou 29 vítimas, no dia 31 de março de 2005. Pela lei, o tempo máximo que uma pessoa pode ficar presa é 30 anos.
A certeza da participação de Carvalho no crime foi unânime para os sete jurados, assim como em uma quadrilha de PMs.
A pena foi calculada em 18 anos por homicídio duplamente qualificado, mais 12 anos por uma tentativa de homicídio e nove pela formação de quadrilha. Foi decretada ainda a perda do cargo público do PM.
Os parentes das vítimas presentes no Tribunal do Júri de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense, desde o primeiro dia do julgamento, na última segunda-feira, comemoraram após a sentença ser proferida. Fogos de artifício foram soltos na porta do tribunal. Antes, Maria Helena Soares Carlos, mãe de Felipe Soares Carlos, 13, chegou a passar mal ao ver a foto do filho morto em um telão.
Na sentença, a juíza Elizabeth Louro destacou com "perplexidade" que o acusado "ostenta a qualidade de policial militar, que, em princípio, deveria inspirar respeito às leis e, em particular, à vida humana".
O promotor Marcelo Muniz comemorou a unanimidade na condenação: "Isso significa que não há a menor dúvida de que ele é culpado". A juíza disse esperar que a sentença seja "marco para começar a combater a mentalidade do justiceiro que existe na Baixada". Segundo ela, a unanimidade dos jurados expressa "o horror que eles sentem por essa conduta [a mentalidade do justiceiro]".
Carvalho foi condenado, no início do mês, a sete anos e oito meses de prisão por receptação de carro roubado.
Irmã do morto Fábio Vasconcelos, Roselene Vasconcelos, 31, disse que a decisão "é uma forma de amenizar a dor que nunca vai parar".
Na sustentação oral, ontem de manhã, Muniz mostrou para os jurados que "Carvalho fazia parte de um grupo de extermínio composto por outros policiais militares que cometiam diversos crimes na região".
O promotor falou da crueldade usada pelos matadores e apontou que algumas vítimas tinham tiros nas mãos, o que mostrava que as tinham atrás da cabeça na hora que foram mortas. Relatou ainda que Felipe, 13, "estava escondido atrás de uma máquina de fliperama, tentando se proteger, e, mesmo assim, foi morto à sangue frio".
A tática da defesa foi desqualificar os depoimentos das testemunhas de acusação ouvidas anteontem. Muito exaltado, o advogado Marco Antônio Gouvêa Farias gritava: "É mentira, mentira e mentira!", mas não trouxe provas suficientes para influenciar a decisão do júri. Ele anunciou que vai recorrer da decisão na próxima segunda.
Outros quatro PMs são acusados de participar do crime. Devem ser julgados, segundo a juíza, até o fim do ano.


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