São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Presos põem fogo em cadeia lotada e matam 25 detentos

Rixa entre grupos que disputam pontos de tráfico na cidade teria sido a causa do ataque

Delegado disse que os policiais não socorreram os presos porque o fogo se espalhou rapidamente pela cela, cheia de colchões

PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PONTE NOVA

Vinte e cinco presos morreram ontem de madrugada em uma carceragem superlotada após rivais incendiarem uma cela da delegacia de Ponte Nova (180 km de Belo Horizonte).
Uma rixa entre grupos rivais que disputam pontos de venda de droga em dois bairros da cidade teria sido o motivo para a morte dos presos. No ataque do suposto grupo rival, os detentos morreram carbonizados.
Por volta da 1h, 25 detentos da cela 9, apontados como responsáveis pelo tumulto, arrombaram o cadeado e foram em direção à cela 8. Armado com ao menos um revólver, o grupo atirou e ateou fogo à cela, onde estaria o traficante Cleverson Alexandre da Cruz, 30, e mais 24 presos.
Até o início da noite, a Polícia Civil não havia informado o nome de nenhum preso morto. Na carceragem da 12ª Delegacia Regional da Polícia Civil havia 173 pessoas, embora a capacidade fosse de 87 presos. Há 12 celas no local.
A arma em poder dos presos, conforme relato de detentos à polícia, foi usada para acuar os presos da cela 8 no fundo do local. Para atear fogo à cela, usaram um colchão encharcado com líquido inflamável.
Os presos morreram na cela sem poder receber socorro. O delegado Luiz Carlos Chardouni, responsável pela delegacia, disse que os policiais não socorreram os presos porque o fogo se espalhou rapidamente pela cela, que tinha colchões e roupas. Os carcereiros, no início do tumulto, também teriam sido recebidos a tiros. Será preciso exames genéticos para identificar os corpos. Segundo Chardouni, o tumulto foi contido uma hora depois.
Foi usado um caminhão-pipa para combater o fogo, mas não houve tempo para evitar as mortes. Durante revista pela manhã, os presos foram colocados nus no pátio da delegacia. Até o final da tarde de ontem, 113 presos haviam sido transferidos para presídios em nove pontos diferentes do Estado. O governo de Minas afirmou que todos seriam transferidos ainda ontem. A carceragem seria totalmente esvaziada.
Os presos amotinados seriam ligados ao traficante Wanderson Luiz Januário, o Biju, transferido no final de junho. Em visita à cadeia em maio, a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa constatou irregularidades, como superlotação e até adolescentes e mulheres presos. O Tribunal de Justiça do Estado diz que vinha alertando o governo Aécio Neves (PSDB) para problemas na cadeia "desde o início deste ano". Em ofício encaminhado à Secretaria da Defesa Social em março, apontou a situação carcerária como "insustentável".
O governo afirmou que abriu sindicância e inquérito para "apuração rigorosa" do conflito. Disse que a Polícia Civil já autuou em flagrante 25 detentos listados como envolvidos.


Colaborou FELIPE BÄCHTOLD , da Agência Folha


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