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Presos põem fogo em cadeia lotada e matam 25 detentos
Rixa entre grupos
que disputam
pontos de tráfico na
cidade teria sido a
causa do ataque
Delegado disse que os
policiais não socorreram os
presos porque o fogo se
espalhou rapidamente pela
cela, cheia de colchões
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PONTE NOVA
Vinte e cinco presos morreram ontem de madrugada em
uma carceragem superlotada
após rivais incendiarem uma
cela da delegacia de Ponte Nova
(180 km de Belo Horizonte).
Uma rixa entre grupos rivais
que disputam pontos de venda
de droga em dois bairros da cidade teria sido o motivo para a
morte dos presos. No ataque do
suposto grupo rival, os detentos morreram carbonizados.
Por volta da 1h, 25 detentos
da cela 9, apontados como responsáveis pelo tumulto, arrombaram o cadeado e foram em
direção à cela 8. Armado com
ao menos um revólver, o grupo
atirou e ateou fogo à cela, onde
estaria o traficante Cleverson
Alexandre da Cruz, 30, e mais
24 presos.
Até o início da noite, a Polícia
Civil não havia informado o nome de nenhum preso morto.
Na carceragem da 12ª Delegacia Regional da Polícia Civil
havia 173 pessoas, embora a capacidade fosse de 87 presos. Há
12 celas no local.
A arma em poder dos presos,
conforme relato de detentos à
polícia, foi usada para acuar os
presos da cela 8 no fundo do
local. Para atear fogo à cela,
usaram um colchão encharcado com líquido inflamável.
Os presos morreram na cela
sem poder receber socorro. O
delegado Luiz Carlos Chardouni, responsável pela delegacia,
disse que os policiais não socorreram os presos porque o fogo
se espalhou rapidamente pela
cela, que tinha colchões e roupas. Os carcereiros, no início do
tumulto, também teriam sido
recebidos a tiros. Será preciso
exames genéticos para identificar os corpos. Segundo Chardouni, o tumulto foi contido
uma hora depois.
Foi usado um caminhão-pipa
para combater o fogo, mas não
houve tempo para evitar as
mortes. Durante revista pela
manhã, os presos foram colocados nus no pátio da delegacia.
Até o final da tarde de ontem,
113 presos haviam sido transferidos para presídios em nove
pontos diferentes do Estado. O
governo de Minas afirmou que
todos seriam transferidos ainda ontem. A carceragem seria
totalmente esvaziada.
Os presos amotinados seriam ligados ao traficante Wanderson Luiz Januário, o Biju,
transferido no final de junho.
Em visita à cadeia em maio, a
Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa
constatou irregularidades, como superlotação e até adolescentes e mulheres presos.
O Tribunal de Justiça do Estado diz que vinha alertando o
governo Aécio Neves (PSDB)
para problemas na cadeia "desde o início deste ano". Em ofício encaminhado à Secretaria
da Defesa Social em março,
apontou a situação carcerária
como "insustentável".
O governo afirmou que abriu
sindicância e inquérito para
"apuração rigorosa" do conflito. Disse que a Polícia Civil já
autuou em flagrante 25 detentos listados como envolvidos.
Colaborou FELIPE BÄCHTOLD , da Agência Folha
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