São Paulo, sexta-feira, 24 de agosto de 2007

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Na porta do presídio e sem obter notícias, parentes se desesperam

Em pé e sob o sol, alguns chegaram a passar mal esperando informações

DA AGÊNCIA FOLHA, EM PONTE NOVA

A falta de notícias foi o principal drama para os parentes de presos mortos no incêndio na carceragem da 12ª Delegacia Regional da Polícia Civil de Ponte Nova (MG).
Os familiares começaram a se amontoar na porta da carceragem desde a madrugada. Sem comer, em pé e sob o sol, alguns passaram mal. O clima durante todo o dia foi de incerteza sobre a vida dos parentes presos.
Pelos rumores que ouvira e por notícias que recolhia com as pessoas e pelo seu rádio de pilha, Leonardo da Silva, 50, já imaginava que seu filho, Fernando Aparecido da Silva, 20, ocupante da cela oito -onde houve o incêndio-, estivesse morto. Preso por tráfico de drogas, Fernando, segundo o pai, conhecia Biju, o suposto chefe de uma das gangues rivais, pois eram do mesmo bairro. Mas seu filho ocupava a superlotada cela em que estaria também o traficante rival de Biju. Leonardo manifestava indignação com a notícia de que entrara uma arma na cadeia.
Quem teve a primeira confirmação extra-oficial de uma morte foi Olívia Delfino Aleixo, 18. Por meio do advogado do marido, soube que Cristiano Aleixo, 21, estava morto. Amparada pela mãe, ela chorava e gritava. Seu marido entrara na carceragem havia dez dias. Disse que não sabia o motivo da prisão, mas que ele já estivera preso em São Paulo.
Algumas pessoas ficaram sabendo que os parentes estavam vivos quando, a partir das 14h, a PM começou a ler os nomes dos presos que seriam transferidos. Até o final da tarde, eram 113. "É o meu filho", gritou América Geralda Silva, 45, mãe de Jean Carlos Silva, 20, preso há três meses, quando ouviu o nome dele na lista. Ela estava na porta da delegacia desde as 2h.
Quem também estava na porta da delegacia era a mãe de Cléverson Cruz, um dos traficantes apontados como alvo do tumulto. Apesar de não ter tido notícias sobre o filho, Alice Cruz, 53, dizia: "Eu sinto que ele está morto".

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