São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2008

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Agricultora teve de esperar 3 meses para fazer aborto

DA REPORTAGEM LOCAL

No dia 20 de outubro de 2004, a agricultora Severina Maria Ferreira, à época com 26 anos, estava internada em um hospital de Recife (PE) para interromper a gestação de quatro meses de um bebê anencéfalo.
No mesmo dia, o Supremo Tribunal Federal derrubou a liminar que permitia a antecipação do parto quando a anomalia da criança é incompatível com a vida, e Severina foi mandada de volta para casa.
"Quando eu me internei no hospital, o parto estava liberado. Eu ia tomar o remédio à noite para fazer [a interrupção] no dia seguinte. Aí chegou a notícia no jornal que não podia mais", lembra.
Foram necessários mais três meses de idas e vindas até que Severina e seu marido Rosivaldo conseguissem a autorização judicial para o aborto. No hospital, ainda sofreram resistência de médicos anestesistas, contrários à prática. O bebê, um menino, nasceu morto.
Severina conta que, quando soube que o bebê tinha anencefalia, decidiu imediatamente pela interrupção da gravidez. "O médico falou que o nenê ia nascer e morrer. Eu não queria passar por todo aquele sofrimento de carregar o nenê na barriga sabendo que ele não ia ficar comigo. Eu cheguei no sétimo mês [gestação]. Se tivesse sido liberado logo, não teria sofrido tanto."
A agricultora diz que em nenhum momento se arrependeu da decisão. "Eu faria tudo de novo porque é um sofrimento muito grande para a gente. Eu espero que eles liberem logo [o aborto de anencéfalo] para que outras mulheres não sofram como eu."
A história virou tema do documentário "Uma Vida Severina", que já ganhou 20 prêmios. Após quase quatro anos, Severina, diz que ainda sofre quando lembra de tudo o que passou. Ela deseja um outro filho -é mãe de Walmir, de sete anos-, mas confessa que tem evitado uma nova gravidez porque teme viver o "pesadelo" novamente. CLÁUDIA COLLUCCI


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