|
Próximo Texto | Índice
Menina já fuma como menino, diz pesquisa
Estudo de âmbito nacional mostra que 6,7% das garotas entre 14 e 18 anos usam tabaco, enquanto os meninos são 8,6%
"As meninas consomem maconha, cocaína e álcool com frequência semelhante à dos meninos", afirma coordenadora da pesquisa
Eduardo Knapp/Folha Imagem
|
Mariana Salzstein, 21, voltou a fumar depois de ir à SPFW |
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
As mulheres já se igualaram
aos homens -ao menos na dependência ao tabaco. Meninas
de até 18 anos já fumam praticamente como meninos, segundo pesquisa da Unifesp
(Universidade Federal de São
Paulo) obtida pela Folha.
Os garotos que fumam são
8,6% da população entre 14 e 18
anos; as meninas somam 6,7%.
Quando se mede o hábito de fumar na população como um todo, há um abismo a separar os
homens das mulheres: 25% e
14%, respectivamente.
Não há uma pesquisa com a
qual esse estudo possa ser
comparado. Mas levantamentos anteriores do Ministério da
Saúde mostravam que meninos e meninas fumando em
proporções iguais era um fenômeno restrito a algumas capitais, como Curitiba. A pesquisa
da Unifesp é a primeira a revelar esse fenômeno em todo o
Brasil, segundo a psiquiatra
Ana Cecília Marques, que coordenou o estudo, feito a partir
de 3.077 entrevistas.
"As meninas consomem maconha, cocaína e álcool com
uma frequência semelhante à
dos meninos. A pesquisa mostra que isso ocorre também
com o tabaco", diz ela.
Maço com florzinha
Há pelo menos três explicações para o aumento de adolescentes fumantes, de acordo
com a psiquiatra. "A menina
amadurece mais cedo, bebe
mais cedo, tem uma vida sexual
mais precoce. Por isso ela começa a fumar mais cedo", diz.
Outro fator, segundo ela, é a
pressão dos pares e da mídia
-os meninos incitam as meninas a fumar, modelos e atrizes
aparecem fumando na TV. Finalmente, a indústria descobriu que é possível criar produtos que atraiam as meninas.
"Maço de cigarro que vem
com florzinha, com porta-batom lilás, com fone de ouvido,
cigarros fininhos com nomes
fashion como Vogue, logotipos
que parecem o do Yves Saint
Laurent. Tudo isso é feito para
mulheres e adolescentes", afirma Clarissa Hamsi, diretora jurídica da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), entidade
que reúne mais de 300 organizações que combatem o fumo.
A lei que proibiu a publicidade de cigarro veta alusões à
masculinidade e à feminilidade, o que permite caracterizar
esses produtos como "ilegais",
na visão da ACT.
Há ainda o que a entidade
classifica de venda casada. Relógio e maço de Free são vendidos por R$ 10, caixa de iPod e
maço de Lucky Strike custam
R$ 12, fone de ouvido e L&M
saem por R$ 10.
O Ministério Público de São
Paulo endossa a posição da
ACT de que as vendas casadas e
os maços supostamente dirigidos para meninas são ilegais.
"São produtos feitos para adolescentes. Meu pai não ouve
iPod. Esses produtos não poderiam existir se a lei federal fosse
respeitada. A lei proíbe brindes", diz o promotor João Lopes Guimarães Jr.
Ele propôs um acordo para
Souza Cruz e a Philip Morris,
pelo qual as fabricantes retirariam esses produtos do mercado para não serem alvo de inquérito. As empresas não comentam a proposta de acordo,
mas dizem que não fazem propaganda nem vendem produtos para adolescentes.
Próximo Texto: Garota começou a fumar aos 14 e diz que não pretende parar Índice
|