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EXCLUÍDOS DO TRANSPORTE
Segundo estudos, preços afastam classes D e E dos coletivos; prefeitos discutem redução do valor
Para 2/3 dos usuários, tarifa de ônibus é alta
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os ônibus urbanos no Brasil
têm as tarifas consideradas mais
altas dentre todos os meios de
transporte coletivo: praticamente
dois em cada três passageiros
-63,9%- acham seus preços altos. Nos trens, 12,5% têm essa
avaliação. Nos metrôs, 38,9%.
Esses dados fazem parte de uma
pesquisa do governo federal em
dez cidades brasileiras, sendo nove capitais, concluída em dezembro passado, que aponta ainda
para a tendência de exclusão das
classes D e E dos coletivos.
Esses segmentos, com renda familiar de até R$ 496 (na época),
representam 45% da população
brasileira. Mas, em cinco grandes
centros, somam apenas 27,5%
dos usuários desses serviços de
transporte. "Eles não dispõem de
outras alternativas de deslocamento motorizado e deveriam ser
a maioria absoluta dos passageiros. Foram expulsos por falta de
renda", diz Alexandre de Ávila
Gomide, do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada).
Para Gomide, a redução dos
passageiros dos ônibus nos anos
90 se deve principalmente à elevação das tarifas e à perda de renda
dos trabalhadores, e não à concorrência do transporte informal.
Essa tese já é aceita parcialmente até por empresários, que sempre pressionaram por reajustes.
"A queda dos usuários foi por um
conjunto desses fatores. A tarifa
alta é uma perversidade", diz Otávio Cunha, presidente da NTU
(Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos).
Estatísticas da NTU mostram
que, hoje, a tarifa média dos ônibus urbanos nas capitais é de R$
1,4130. Cálculos da entidade
apontam que, de 1995 a 2002, as
passagens subiram 25% acima da
inflação do IGP-DI (calculado pela Fundação Getúlio Vargas).
Um levantamento da ANTP
(Associação Nacional de Transportes Públicos) feito no ano passado apontou que, das 204 milhões de viagens diárias no país
(em distâncias superiores a 500
metros), 43,6% eram feitas a pé e
7,4%, de bicicleta. Esses resultados são atribuídos à incapacidade
da população de pagar as tarifas.
Pobreza
A pesquisa do governo federal,
sob responsabilidade da extinta
Sedu (Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano), foi feita
no Rio de Janeiro, Porto Alegre,
Curitiba, Belo Horizonte, Fortaleza, Salvador, Belém, Goiânia, Teresina e Campina Grande, num
total de 6.250 entrevistas -São
Paulo, por já ter outros estudos,
ficou de fora do levantamento de
dados, mas não das análises.
Os dados serão utilizados para
incentivar as medidas de combate
à exclusão social no transporte.
Hoje, prefeitos das maiores capitais reúnem-se em Salvador para discutir redução das tarifas. O
prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy (PFL), já confirmou a
presença de mais de 20 chefes dos
poderes executivos municipais
-sendo 13 de capitais. São Paulo
deve ser representada pelo secretário Jilmar Tatto (Transportes).
Amanhã, será lançado oficialmente em Brasília um manifesto
do MDT (Movimento Nacional
pelo Direito ao Transporte), formado por entidades de empresários, trabalhadores e especialistas,
defendendo um tratamento tributário diferenciado ao setor e a
revisão das gratuidades.
Segundo estatísticas do MDT,
os passageiros não pagam nem
metade do custo real da condução
em países desenvolvidos. Em Roma, a tarifa representa 10% das
despesas. Em Paris, 33%. O MDT
considera haver 55 milhões de excluídos do transporte no Brasil
-correspondente aos que vivem
abaixo da linha de pobreza.
Segundo Imbassahy, os prefeitos deverão assinar uma carta hoje se comprometendo a reduzir
imediatamente as tarifas se houver alguma medida de diminuição de impostos ao setor.
O prefeito de Curitiba, Cassio
Taniguchi (PFL), já adotou essa
estratégia há três meses, quando,
pela primeira vez na história, reduziu a tarifa dos ônibus de R$
1,70 para R$ 1,65, após constatar
queda no preço do diesel.
Imbassahy e Taniguchi defendem ainda a revisão da política de
gratuidades. No Rio, 40% do valor
da tarifa banca isenções. A idéia
defendida por eles é a de que esse
custo precisaria ser repartido com
toda a sociedade -hoje ele é embutido no preço da passagem.
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