São Paulo, sábado, 24 de setembro de 2005

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PASSARELA DA VIDA

Proposta do hospital Pérola Byington é resgatar a auto-estima

Vítimas de câncer fazem desfile

Diego Padgurschi/Folha Imagem
A modelo e apresentadora Ana Hickmann dá dicas de moda para pacientes que sofrem de câncer


CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Elas nunca haviam subido em uma passarela, mas desfilaram com desenvoltura, não se incomodando com os quilinhos a mais, celulite ou com as rugas. O importante era o resgate da auto-estima levada pelo câncer.
Com esse propósito, 22 pacientes do hospital Pérola Byington, a maioria vítima de câncer da mama e do útero, desfilaram ontem à tarde em uma passarela montada no saguão da instituição, na Bela Vista (região central de São Paulo). Receberam aplausos e assobios da equipe médica e de outros pacientes que por lá circulavam.
Ao saírem da passarela, os mais diversos dramas se descortinaram. Eliede Santos, 44, teve câncer no colo do útero e nos ovários e, há 23 dias, retirou os órgãos. Com um filho e separada do marido, vive sozinha em São Paulo.
Mesmo no pós-operatório, teve disposição para subir na passarela. "Foi um momento muito especial. Não me sentia tão bem desde a minha formatura [em um curso técnico de administração] há quase 20 anos", contou, enquanto trocava rapidamente de roupa para a última entrada na passarela.
Kátia Moreira, 43, teve câncer da mama há um ano e meio e fez cirurgia de reconstrução dos seios. "A nossa auto-estima fica muito abalada durante e depois do tratamento. Mas precisamos reagir. Os médicos fazem a sua parte, Deus, a dele, e a gente tem que fazer a nossa", afirmou.
Segundo Zeni Rose Tolói, diretora do hospital, as roupas foram cedidas pelos lojistas do Bom Retiro, e a maquiagem e os penteados, feitos por voluntários. Foi o primeiro evento do gênero no hospital, que já oferece maquiagem, pintura e corte de cabelo às pacientes.
O ponto alto do desfile foi a presença da modelo e apresentadora Ana Hickmann, que, voluntariamente, deu uma aula de como amarrar o lenço na cabeça. O acessório é geralmente usado por pacientes que passam pela quimioterapia.
Com vários tipos de lenços, ela deu dicas de como utilizá-los em diversas situações. "Esse com brilho fica muito chique à noite", explicava a modelo, mostrando um lenço de seda lilás, com detalhes em prata, sob o olhar atento das pacientes.
Na platéia, a paciente Mônica de Lima, 40, que raspou a cabeça após iniciar tratamento de quimioterapia para tratar câncer da mama, disse que estrearia novas maneiras de amarrar o seu lenço neste fim de semana.
"Isso tudo ajuda a gente a enfrentar a doença com mais ânimo. Não é fácil olhar no espelho e se ver careca", disse, interrompendo a entrevista para ouvir as últimas frases de Hickmann: "Não importa o caminho que vocês estão percorrendo. O importante é que se orgulhem do que são".


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