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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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INVESTIGAÇÃO

Acusados de ligação com contrabando, eles movimentaram, por ano, até 20 vezes os valores de seus salários

Para CPI, policiais têm finanças suspeitas

Keiny Andrade - 15.set.2003/Folha Imagem
Os policiais civis Jean Wagner Cabral (dir.) e José Norberto dos Santos após prestarem depoimento


GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

A quebra do sigilo fiscal de policiais civis paulistas sob suspeita de ligação com o contrabandista Roberto Eleutério da Silva, o Lobão, mostrou, segundo a CPI da Pirataria da Câmara dos Deputados, rendimentos incompatíveis com os valores movimentados nas contas bancárias.
As informações recebidas da Receita Federal pelos deputados, às quais a Folha teve acesso, mostram policiais movimentando por ano quantidade de dinheiro que supera em até 20 vezes os valores de seus salários e as quantias declaradas no Imposto de Renda.
Os policiais passaram a ser investigados depois que grampos telefônicos feitos pela Procuradoria da República de Brasília flagraram um esquema de proteção a Lobão, além de outros crimes cometidos como concussão (extorsão cometida por um funcionário público) e tráfico de drogas.
"Tudo indica que esse dinheiro inexplicado tenha vindo do crime organizado. [Os policiais] usavam suas próprias contas bancárias porque achavam que nada iria acontecer com eles", afirmou o presidente da CPI, Luiz Antonio de Medeiros (PL-SP).
Com prisão decretada e já denunciado por formação de quadrilha, o agente policial -que tem a função de motorista- Jean Wagner Cabral, que pertencia ao 10º DP (Penha), declarou, segundo dados da CPI, R$ 15.170,15 de rendimentos em 2002.
Só que, no mesmo ano, Cabral movimentou R$ 343.137,87 em três contas bancárias que estão em seu nome. Em depoimento à CPI, ele disse que chegou a receber US$ 3.000 enviados por Lobão por ter liberado uma carga com cigarros contrabandeados, mas devolveu o dinheiro.
O policial José Norberto dos Santos, ex-chefe dos investigadores do 10º DP, que também está preso, teve no ano passado rendimentos de R$ 21.872,87, segundo os dados da CPI. Mas duas contas bancárias apontaram uma movimentação de R$ 422.738,48 no mesmo período.
Na soma dos dados de 1998 a 2002, as informações repassadas pela Receita Federal apontam rendimentos de R$ 158.083,91. Só que as contas bancárias que estão em nome de Santos movimentaram R$ 824.009,93 nesses cinco anos, segundo levantamento feito pela CPI da Pirataria.
Santos foi denunciado pela Promotoria por formação de quadrilha, corrupção passiva, adulteração de chassi, peculato (furto praticado por servidor), prevaricação e tráfico de drogas.
O delegado Nelson de Camargo Rosa, que pertencia ao 33º DP (Pirituba) e que também teve a prisão decretada sob acusação de formação de quadrilha e concussão, é outro exemplo apontado pela CPI. Os rendimentos declarados por ele e a mulher -que é responsável por uma pequena parcela- somaram no ano passado R$ 108.163,94.
De acordo com os dados da CPI, as três contas bancárias em nome do delegado mostraram uma movimentação de R$ 304.406,57 no mesmo período. Já na soma de 1998 a 2002, os rendimentos ficaram em R$ 319.951,21, enquanto a movimentação bancária chegou a R$ 1.460.412,83.
O delegado Aldo Galiano Júnior, titular da Seccional Leste, também teve o sigilo fiscal quebrado pela CPI, apesar de não ter sido denunciado. Galiano Júnior foi ouvido como testemunha pelos deputados porque o 10º DP -onde Cabral e Santos trabalhavam- fica na área de abrangência de sua seccional.
Os dados repassados pela CPI da Pirataria apontam rendimentos dele e de sua mulher, no ano passado, de R$ 512.341,26. Nove contas apontam uma movimentação de R$ 1.233.045,41.


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