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São Paulo, sexta-feira, 24 de outubro de 2003

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BARBARA GANCIA

Ninguém mais ri das fotos no maço de cigarros

Pela segunda vez no ano, sinto-me compelida a utilizar este espaço na defesa do galináceo tapuia. Como se não bastassem o que fazemos com as penudas nas encruzilhadas do país e os sorrisos que nos escapam dos lábios a cada vez que aquele frango inconsequente de capacete surge na TV para promover o consumo de colegas seus que foram brutalmente assassinados, fatiados e congelados, agora demos para usar galinhas como forma de protesto.
Pois sabe que fim teve a galinha que foi atirada sobre a prefeita? Disseram que ela havia sido adotada como mascote de um canal de TV. Balela! Acabou virando ensopado no fogão de um certo porteiro de faculdade. E as seis plumosas que foram usadas no protesto contra os jogadores do Fluminense, o nobre leitor saberia dizer onde elas se encontram agora? Foram abandonadas à própria sorte em uma caçamba de lixo próxima ao estádio.
O filme em animação de massinha de modelar "A Fuga das Galinhas" mostrou ao mundo um grupo de valorosas aves inglesas que escapa de um campo de prisioneiros. Já as nossas plumosas são motivo de riso até na CNN. Na quarta-feira, em meio aos gracejos dos apresentadores, a emissora repetiu inúmeras vezes as cenas de Romário esbofeteando o torcedor acompanhadas de closes das aves.
Eles têm mais é de rir, mesmo. Nosso futebol ultrapassou todos os limites da melancolia. Veja só: no domingo tive a boa sorte de assistir, in loco, em Fort Lauderdale, na Flórida, ao jogo de futebol americano entre os Miami Dolphins e os New England Patriots. Encontrei um estádio lotado, com lugares marcados até para estacionar o carro, em que os torcedores dos dois times esbarravam uns nos outros, sem maiores traumas, dentro e fora do estádio.
Minha entrada, em cadeira numerada, dava direito a um lauto repasto em local acarpetado, com ar-condicionado e ambientado com música ao vivo. Está certo que custou US$ 180,00. Mas um assento na geral não sai por menos de US$ 70,00, preço justo pelo padrão americano.
Os gringos que acompanharam a mim e à minha tresloucada amiga Bucicleide (pois é, a bicha não larga do meu pé) riram muito quando Buci, digo, Cleide sacou um maço de cigarros com a foto do fumante impotente impressa no verso. Acharam a imagem amena demais. Pois não é que agora dá vontade de voltar aos EUA só para esfregar na cara deles as fotos fantasmagóricas da nova leva?


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