São Paulo, quarta-feira, 24 de outubro de 2007

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Última casa de Jorge Amado está abandonada

Imóvel em Salvador tem rachaduras e infiltrações

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Rua Alagoinhas, 33, Rio Vermelho. O endereço em Salvador onde o escritor Jorge Amado (1912-2001) morou durante seus últimos 38 anos, onde suas cinzas foram jogadas e que virou ponto turístico da cidade está abandonado, servindo de abrigo para traças e cupins.
Os reflexos do abandono estão por toda a casa, de quatro quartos, seis banheiros, sala, cozinha, copa, escritórios, varanda, biblioteca, quiosque, piscina e garagens.
Logo na entrada do imóvel, há rachaduras nas paredes, infiltrações, tijolos quebrados e fiações elétricas soltas.
Na sala, usada por Amado para receber convidados, como o ex-presidente francês François Mitterrand e o escritor Jean-Paul Sartre, o cenário é o mesmo: bocais oxidados e sem lâmpadas, armários quebrados, rachaduras nas paredes, ar-condicionado sem funcionar.
A casa, para onde a família se mudou em 1963, está desabitada desde 2003 -a escritora Zélia Gattai, mulher de Amado, ainda morou no lugar por dois anos depois da morte do marido. Hoje, o quarto do casal está com espelho enferrujado, infiltrações e madeira sobre a cama.
A família quer transformar a casa, que é particular, em museu. Segundo Maria João Amado, 34, neta do escritor, o Ministério da Cultura aprovou um projeto que prevê captação de R$ 3,5 milhões para obras na casa. "Agora temos que encontrar financiadores."
Ela diz que a família gasta R$ 10 mil por mês na manutenção do local. "Quatro seguranças se revezam 24 horas por dia e ainda temos de pagar contas e fazer pequenos reparos." Os principais objetos de Amado foram transferidos para a Fundação Casa de Jorge Amado ou estão sob a guarda dos filhos, mas restaram quadros, móveis e até eletrodomésticos no local.
Mesmo quase sem móveis, há trabalhos na casa que revelam preferências do escritor. Por todas as partes há azulejos coloridos e gradis com trabalhos do artista plástico Carybé (1911-1997), imagens cultuadas no candomblé e lembranças deixadas por amigos.
Na varanda, permanecem dois azulejos pintados e assinados pelo espanhol Pablo Picasso (1881-1973). As paredes da dependência de hóspedes ainda guardam as matrizes das gravuras feitas pelo artista plástico Calasans Neto (1932-2006) para o livro "Teresa Batista Cansada de Guerra" (1972). A casa foi comprada após Amado vender aos estúdios MGM os direitos de "Gabriela, Cravo e Canela" (1958).


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