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foco
Nem Mitsubishi se salva em leilão de automóveis apreendidos de traficantes
PAULO SAMPAIO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Mitsubishi Eclipse 1995
vermelho-bombeiro engana.
Na verdade, não passa de uma
vedete decaída entre os 57 carros muito depenados que pertenceram a traficantes e que
serão leiloados amanhã pelo
Estado de São Paulo.
Tem Belina, Brasília, Chevette, Monza, boa parte irreconhecível e em cores tão
atraentes como verde abacate,
amarelo ovo e azul anil.
A maioria dos automóveis
(com o perdão do trocadilho) é
uma droga. No adesivo colado
no vidro da caminhonete Saveiro 1994 lê-se: "Necessário
Vos É Nascer de Novo".
Os carros são velhos porque
só vão a leilão aqueles cujos
donos não podem mais apelar
judicialmente sua posse. O novo proprietário, por sua vez,
não precisa temer o constrangimento de ter de explicar a
um guarda que aquele veículo
não é de um traficante. O carro
está no nome do Estado, e a
transferência é feita diretamente para o arrematador.
O leilão é o primeiro do gênero no Estado: a idéia foi da
comissão antidrogas da Secretaria da Justiça e da Defesa da
Cidadania de São Paulo, que
espera arrecadar R$ 200 mil.
Diz que vai usar o dinheiro em
campanhas de prevenção ao
tráfico e ao uso de drogas.
Do total arrecadado, 60%
vão ficar no Estado, os outros
40% seguem para a União,
que, de acordo com a lei, também deve aplicar sua parte em
projetos de prevenção.
O presidente da comissão,
Guilherme Bueno Camargo,
diz que quer promover pelo
menos três leilões desses por
ano, a partir de 2008.
"Se estabelecermos uma rotina, certamente vamos conseguir ter veículos menos velhos, já que é preciso vender primeiro os que estão há mais
tempo apreendidos", diz.
E o que era feito dos veículos
antes? Bueno diz que ficavam
no pátio da polícia.
A empresa responsável pelo
evento é a Sodré Santoro, que
tem convênio com a secretaria
e ficará com 5% do valor de cada venda.
Marco Aurélio Lopes, o encarregado da empresa que
mostra o pátio de 300 mil m2 à
reportagem, diz que se vendem ali cerca de 500 veículos
por dia. "Tem carro que custa
R$ 50 mil lá fora e que, aqui,
sai por R$ 37 mil", afirma ele,
em uma das duas salas destinadas aos leilões. Com ladrilhos brancos e equipada com
cadeiras de plástico idem, a sala faz lembrar um templo
evangélico.
Apesar das boas oportunidades oferecidas pelo leilão, o
próprio Lopes aconselha a
deixar a euforia em casa. "Parece um negócio inigualável,
mas, na afobação, o cara se
afunda", avisa.
Confessadamente "afobado", o comerciante Paulo
Freitas conta que arrematou
um lote de TV, filmadora e CD
player por R$ 900. (Ali se leiloa todo tipo de maquinário).
"Aquilo não valia R$ 300. Estava tudo queimado." Parêntese: não é permitido testar a
máquina ou investigar o estado de motor, câmbio ou suspensão antes da compra.
Olhando uma Brasília cor de
manteiga com as rodas tortas,
cheia de buracos de ferrugem
e até galhos de árvore no interior, imagina-se que, de graça,
aquele carro é caro (já que será preciso rebocá-lo). Mas Lopes afirma que tem quem arremate o que sobrou do veículo por, digamos, R$ 300 e
aproveite as peças em carros
não tão velhos ou as venda para desmanches.
O leilão não tem lance mínimo: parte do zero. O Eclipse
foi avaliado em R$ 12 mil, mas
isso não é nem sequer revelado aos participantes. Os organizadores fazem segredo do
valor apenas para que os participantes imaginem preços
maiores e se "afundem" em
lances cada vez mais altos, diz
Lopes. Os organizadores garantem que ninguém, "mesmo", sabe do valor de avaliação antes do leilão. Só a Folha.
SERVIÇO - O leilão será amanhã,
às 10h, no Pátio Sodré Santoro
(Marginal Dutra, km 224, Guarulhos, Grande São Paulo)
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