São Paulo, sábado, 24 de novembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Envelhecimento deixa algumas pessoas um pouco ridículas, diz Pitanguy

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Em "Aprendiz do Tempo" (Nova Fronteira, R$ 44,90, 336 págs.), livro de memórias que está lançando, Ivo Pitanguy conta que, nos anos 40, quando iniciava a carreira no Pronto-Socorro do Rio (hoje hospital Souza Aguiar), percebeu que, além de salvar a vida de uma pessoa, era importante reconstruir sua auto-estima. Escolheu sua especialização e se tornou o mais famoso cirurgião plástico do mundo.
Naquele período, viu mulheres chegarem à emergência sangrando por tentativas de aborto. Para ele, a mulher que decide fazer uma cirurgia estética tem algo em comum com a que não deseja um filho.
"A mulher tem direito ao seu corpo. Isso [o aborto] tem que ser visto em profundidade. Não deve ser liberado 100%. Mas um filho tem que ser feliz, não pode nascer com uma marca", opina.
Aos 81 anos, Pitanguy resolveu produzir seu terceiro livro para registrar histórias que não entraram nas edições de 1984 e 1993 e reescrever outras à luz de mais tempo vivido. O tom é de alegria. "O mundo já traz tanta coisa triste... Não quero disseminar a angústia."
Para surpresa, escreve: "Nada é mais belo e fascinante do que um rosto com rugas". Coerentemente, diz que se sente "muito bem" com a atual idade e não pensa em fazer sua primeira plástica como paciente.
"Não fiz por preguiça, não que não precise. Mas eu me tolero. Todo mundo que se gosta não mexe nas rugas." Ele mostra com orgulho a "flacidez natural" em seu pescoço. Nem todos têm essa sorte.
"O envelhecimento faz de algumas pessoas um pouco ridículas. Por que não corrigir? Elas ficam felicíssimas. É o caso daquelas barbelas nos homens, um queixo duplo enorme", diz, em sua clínica em Botafogo (zona sul do Rio).
Parte significativa das mulheres que o procuram quer aumentar os seios com silicone. "Quem tem pouca ou quase nenhuma mama e quer aumentar, acho muito legítimo. Quem tem seios normais e quer aumentar um pouco, já é um conceito de feminilidade aceito. Mas, se quer aumentar demais, acho feio e desaconselho. Isso é influência das revistas eróticas americanas. Para nós, brasileiros, aquilo é até um pouco agressivo", acredita.
"Há pessoas capazes de vender a casa para refazer a orelha que julgam torta, e está normal. Estão fora da realidade e pedem um tratamento mais psicoterápico que cirúrgico."
Para o cirurgião, recursos como silicone, botox e colágeno podem ser muito úteis, se na medida certa e com acompanhamento médico. O problema são os excessos.
"A nossa época está vivendo um culto exagerado ao corpo. É produto da mídia, do marketing. Há um lado muito saudável, porque as pessoas estão fazendo exercícios, comendo melhor, vivendo mais. O excesso é o narcisismo, que não é só doentio, mas prejudicial. O corpo transporta o espírito, que é o mais importante."


Texto Anterior: Promotoria: Órgão analisa dados sobre dengue no Estado de SP
Próximo Texto: Para ministro, a escola pública será sempre pior
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.