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Envelhecimento deixa algumas pessoas um pouco ridículas, diz Pitanguy
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Em "Aprendiz do Tempo"
(Nova Fronteira, R$ 44,90,
336 págs.), livro de memórias
que está lançando, Ivo Pitanguy conta que, nos anos 40,
quando iniciava a carreira no
Pronto-Socorro do Rio (hoje
hospital Souza Aguiar), percebeu que, além de salvar a vida
de uma pessoa, era importante
reconstruir sua auto-estima.
Escolheu sua especialização e
se tornou o mais famoso cirurgião plástico do mundo.
Naquele período, viu mulheres chegarem à emergência
sangrando por tentativas de
aborto. Para ele, a mulher que
decide fazer uma cirurgia estética tem algo em comum com a
que não deseja um filho.
"A mulher tem direito ao seu
corpo. Isso [o aborto] tem que
ser visto em profundidade.
Não deve ser liberado 100%.
Mas um filho tem que ser feliz,
não pode nascer com uma
marca", opina.
Aos 81 anos, Pitanguy resolveu produzir seu terceiro livro
para registrar histórias que
não entraram nas edições de
1984 e 1993 e reescrever outras
à luz de mais tempo vivido. O
tom é de alegria. "O mundo já
traz tanta coisa triste... Não
quero disseminar a angústia."
Para surpresa, escreve: "Nada é mais belo e fascinante do
que um rosto com rugas". Coerentemente, diz que se sente
"muito bem" com a atual idade
e não pensa em fazer sua primeira plástica como paciente.
"Não fiz por preguiça, não
que não precise. Mas eu me tolero. Todo mundo que se gosta
não mexe nas rugas." Ele mostra com orgulho a "flacidez natural" em seu pescoço. Nem
todos têm essa sorte.
"O envelhecimento faz de algumas pessoas um pouco ridículas. Por que não corrigir?
Elas ficam felicíssimas. É o caso daquelas barbelas nos homens, um queixo duplo enorme", diz, em sua clínica em Botafogo (zona sul do Rio).
Parte significativa das mulheres que o procuram quer
aumentar os seios com silicone. "Quem tem pouca ou quase
nenhuma mama e quer aumentar, acho muito legítimo.
Quem tem seios normais e
quer aumentar um pouco, já é
um conceito de feminilidade
aceito. Mas, se quer aumentar
demais, acho feio e desaconselho. Isso é influência das revistas eróticas americanas. Para
nós, brasileiros, aquilo é até
um pouco agressivo", acredita.
"Há pessoas capazes de vender a casa para refazer a orelha
que julgam torta, e está normal. Estão fora da realidade e
pedem um tratamento mais
psicoterápico que cirúrgico."
Para o cirurgião, recursos
como silicone, botox e colágeno podem ser muito úteis, se
na medida certa e com acompanhamento médico. O problema são os excessos.
"A nossa época está vivendo
um culto exagerado ao corpo.
É produto da mídia, do marketing. Há um lado muito saudável, porque as pessoas estão fazendo exercícios, comendo
melhor, vivendo mais. O excesso é o narcisismo, que não é
só doentio, mas prejudicial. O
corpo transporta o espírito,
que é o mais importante."
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