|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para ministro, a escola pública será sempre pior
Fernando Haddad (Educação) fez a afirmação ao comentar resultado do Enem, em que as particulares se saíram melhor
Para o ministro, se a rede particular fosse pior do que a pública, ela acabaria por falta de interessados em pagar por serviços inferiores
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse ontem à
Folha não ter se surpreendido
com o fato de as escolas públicas terem, em média, pior desempenho do que as particulares no Enem (Exame Nacional
do Ensino Médio).
O exame mostrou que, neste
ano, a média de todos os alunos
que estudaram somente na rede pública na prova objetiva foi
de 49,2, enquanto os que cursaram apenas a rede privada atingiram a média de 68, numa escala de zero a cem. O mesmo
aconteceu na prova de redação,
mas com diferença menor (55,3
das escolas públicas ante 62,3
das particulares).
"No dia em que a rede privada for pior do que a pública, por
definição, ela acabará, já que
ninguém vai pagar para receber
um ensino que pode obter gratuitamente e com mais qualidade", afirmou Haddad. Ele
também reiterou que os resultados do Enem não podem ser
comparados com os de anos anteriores, embora o MEC tenha
destacado ontem, em informe,
a evolução nas notas.
"No ano passado, quando as
médias pioraram, nós explicamos aos jornalistas que elas
não podiam ser comparadas e
que não se podia dizer, a partir
daí, que a qualidade da educação piorou. Mesmo assim, muitos publicaram que a qualidade
caiu. Neste ano, as médias melhoraram, mas continuamos dizendo que o Enem não permite
comparações com anos anteriores, seja para dizer que o ensino está melhor, seja para dizer que está pior."
A razão principal que explica
por que essa comparação não
pode ser feita é que a prova
aplicada num ano não segue o
mesmo padrão de dificuldade
do ano anterior. Se, por exemplo, o teste deste ano foi mais
fácil, as médias vão aumentar,
não porque os alunos são melhores, mas porque o nível de
dificuldade caiu.
Se essa comparação fosse
possível, o MEC registraria
neste ano uma melhoria tão súbita e significativa que soaria irreal. Na prova objetiva em
2006, a média de todos os alunos foi de 36,9 pontos. Neste
ano, essa mesma média ficou
em 51,5. A comparação de um
ano para o outro permitiria dizer que houve melhoria de 40%
nas notas nesse período, algo
absolutamente incomum numa área em que os resultados
vêm a médio e longo prazo.
O ministro explicou também
que, pela mesma razão, nem
mesmo a comparação da distância entre a rede pública e a
particular pode ser feita de um
ano para o outro. Como o nível
de dificuldade da prova pode
variar, um teste muito fácil pode diminuir artificialmente a
distância entre a rede pública e
a privada, por estar nivelado
por baixo. Da mesma maneira,
questões muito difíceis podem
aumentar a distância entre
bons e maus alunos.
Os exames do MEC que permitem a comparação das notas
de um ano para o outro são o
Saeb (Sistema de Avaliação da
Educação Básica) e a Prova
Brasil. Ambos são realizados
com o objetivo de comparar o
desempenho da educação brasileira ao longo do tempo. Por
isso, suas provas, aplicadas bianualmente, seguem o mesmo
padrão de dificuldade.
A principal motivação dos estudantes que fazem o Enem é
ingressar em universidades
que aceitem o exame em seu
processo de seleção ou tentar
uma vaga no ProUni, programa
do MEC que oferece vagas gratuitas para alunos carentes em
instituições privadas.
Não é, portanto, um instrumento adequado para comparar médias de um ano para o
outro, mas, sim, para dizer
quem naquele ano obterá uma
vaga no ensino superior.
Texto Anterior: Envelhecimento deixa algumas pessoas um pouco ridículas, diz Pitanguy Próximo Texto: Saneamento: Sabesp se nega a divulgar beneficiários de áreas cedidas Índice
|