São Paulo, segunda-feira, 24 de novembro de 2008

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Brasil tem 455 cidades sem médicos, diz órgão da OMS

Maioria dos municípios desprovidos de profissionais fica no Nordeste do país

Ministério da Saúde diz ter projeto para reduzir falta, mas Temporão afirma que riqueza concentra médicos nos maiores centros

MÁRCIO PINHO
ENVIADO ESPECIAL A OURO PRETO

O Brasil tem 455 cidades sem médicos, de um total de 5.564 municípios no país. O problema, que atinge 8,17% das cidades, é mais acentuado em regiões distantes dos maiores centros urbanos, como no Nordeste, que lidera a lista de cidades sem médicos, com 117, 25,7% do total do país. No Sudeste são 111, a maioria cidades pequenas, como Suzanópolis e Sagres, em São Paulo.
Os dados foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde em Ouro Preto (MG), durante um encontro da Global Health Workforce Alliance -órgão da OMS (Organização Mundial da Saúde) cuja bandeira é a maior presença de médicos onde há carência deles. O levantamento foi feito com base em dados de outubro de entidades como o CNES (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde) e a Universidade Federal de Minas Gerais.
Eles revelam ainda que hospitais sofrem para contratar especialistas. No Nordeste, 42,3% dos hospitais consultados disseram ter muitas dificuldades para contratar pediatras. Foram consultados 420 hospitais. Segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, o problema ocorre por motivos como a insegurança profissional. "Há uma tendência não só de que a tecnologia hospitalar mais complexa se concentre em determinadas regiões, mas que os médicos acompanhem essa concentração de riqueza."
Outra causa é o perfil do estudante de medicina, que geralmente vem de grandes centros e tem bom poder aquisitivo.

Má distribuição
No relatório de 2006 da OMS, o Brasil aparece com taxa de 1,15 profissionais de saúde por mil habitantes -um pouco acima do mínimo preconizado pela entidade: 1. Alguns Estados ficaram abaixo desse mínimo, como o Acre, com 0,8. O ministro aponta diversas ações feitas hoje para minimizar essa carência, como o PSF (Programa Saúde da Família), criado em 1993 e que hoje conta com mais de 28 mil equipes.
O ministério cita outras ações, como o Telessaúde, que capacita equipes do PSF em localidades remotas com o uso da internet, e o Pró-Saúde, que busca capacitar o médico para atender na rede pública.
Quanto à diferença salarial e à falta de plano de carreira, o que também desestimula médicos a trabalhar em pequenas localidades, Francisco Campos, secretário de Gestão do Trabalho e da Educação do ministério, afirma que o ministério pretende intervir no problema.
A inserção em locais de conflito, como favelas, e o isolamento a que o médico se submete em cidades distantes também são apontados como desafios pelo ministério.


O repórter MÁRCIO PINHO viajou a convite e com as despesas pagas pela Global Alliance


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