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EDUCAÇÃO
Embora invista quase o mesmo que países desenvolvidos -5% do PIB-, Brasil tem distorções no custo por aluno
1 universitário 'vale' 17 alunos do 1º grau
DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília
O Estado brasileiro investe em
educação volume proporcional ao
de países desenvolvidos e superior
ao de países vizinhos, como Argentina e Chile. Apesar disso, gastou em 95 um dos menores valores
com cada aluno do ensino fundamental na América Latina.
O setor público brasileiro gastou
5% do PIB (Produto Interno Bruto) com educação -valor idêntico ao dos EUA e da Bélgica e um
pouco inferior ao da Suíça (5,5%).
Na Argentina, o gasto foi de 3,4%,
e no Chile, de 3%. O PIB é o conjunto de bens e serviços produzidos a cada ano no país.
Entretanto, enquanto cada aluno do ensino fundamental chileno
custou aos cofres públicos US$
1.807, no Brasil foi gasto menos da
metade: US$ 870.
Os dados fazem parte do anuário
de indicadores educacionais da
OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado ontem.
Foram comparados indicadores
dos 29 países-membros da OCDE,
a maioria desenvolvidos, com os
de 14 países em desenvolvimento
convidados, entre eles Brasil, Argentina e Chile. Os dados se referem a 95 e 96.
A desproporção entre o percentual do PIB investido em educação
no Brasil e o gasto anual por aluno
do ensino fundamental ocorre
porque boa parte dos US$ 31,5 bilhões que União, Estados e municípios investem em educação é
abocanhado pelo ensino superior.
Em 96, cada aluno matriculado
em universidades públicas no Brasil custou aos cofres públicos US$
14.303 -gasto acima da média
dos países da OCDE, onde cada
aluno custou US$ 8.871.
Ou seja, o mesmo dinheiro gasto
para pagar um ano de estudo de
um aluno de universidade pública
no Brasil é suficiente para financiar quase 17 alunos do ensino
fundamental.
Entre todos os países pesquisados, só EUA (US$ 19,9 mil), Suíça
(18,3 mil) e Malásia (US$ 14,5 mil)
gastaram mais com alunos do ensino superior do que o Brasil.
O Uruguai, que investe no ensino fundamental valor per capita
um pouco maior do que o Brasil
(US$ 920 contra US$ 870), gasta
um valor 84% menor com cada
aluno de universidade (US$ 2.289
a US$ 14.303).
Para o ministro Paulo Renato
Souza (Educação), um dos motivos da desproporção é a baixa
produtividade das universidades
brasileiras. A média de alunos por
professor nas universidades públicas e privadas no Brasil é de 11,8. A
média nos 29 países-membros é de
14,6 alunos por docente.
Outra explicação do ministro é
que o país tem muito mais crianças em idade escolar do que os demais pesquisados. "Nosso sistema é um sistema de massas, que
abriga uma população superior à
da Argentina e quase do mesmo
tamanho da da França ou da Itália.
Se dividirmos o montante de recursos disponíveis pela imensidão
de alunos que temos na escola, o
valor per capita vai cair."
Ele afirma que, em sua gestão, os
investimentos com educação básica aumentaram muito, o que o levantamento, por ter coberto os
anos de 95 e 96, não refletiu.
Para Maria Helena Guimarães,
presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), a porcentagem do
PIB gasta com o ensino superior é
"vergonhosa". "O que o Brasil
gasta com educação superior é
muito elevado, comparado ao que
gasta com o 1º e 2º graus."
Segundo a presidente do Inep, o
gasto com a educação básica só
aumentará quando for corrigido o
fluxo escolar. "Dos 36 milhões de
alunos do ensino fundamental,
8,5 milhões têm mais de 14 anos e
já deveriam estar no ensino médio. Se não houvesse essa distorção, teríamos só 28,5 milhões. Ou
seja, 30% a mais de recursos."
Colaboraram
Betina Bernardes, da Sucursal
de Brasília, e Priscila Lambert, da Reportagem
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