São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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EDUCAÇÃO
Embora invista quase o mesmo que países desenvolvidos -5% do PIB-, Brasil tem distorções no custo por aluno
1 universitário 'vale' 17 alunos do 1º grau

DANIELA FALCÃO
da Sucursal de Brasília

O Estado brasileiro investe em educação volume proporcional ao de países desenvolvidos e superior ao de países vizinhos, como Argentina e Chile. Apesar disso, gastou em 95 um dos menores valores com cada aluno do ensino fundamental na América Latina.
O setor público brasileiro gastou 5% do PIB (Produto Interno Bruto) com educação -valor idêntico ao dos EUA e da Bélgica e um pouco inferior ao da Suíça (5,5%). Na Argentina, o gasto foi de 3,4%, e no Chile, de 3%. O PIB é o conjunto de bens e serviços produzidos a cada ano no país.
Entretanto, enquanto cada aluno do ensino fundamental chileno custou aos cofres públicos US$ 1.807, no Brasil foi gasto menos da metade: US$ 870.
Os dados fazem parte do anuário de indicadores educacionais da OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), divulgado ontem.
Foram comparados indicadores dos 29 países-membros da OCDE, a maioria desenvolvidos, com os de 14 países em desenvolvimento convidados, entre eles Brasil, Argentina e Chile. Os dados se referem a 95 e 96.
A desproporção entre o percentual do PIB investido em educação no Brasil e o gasto anual por aluno do ensino fundamental ocorre porque boa parte dos US$ 31,5 bilhões que União, Estados e municípios investem em educação é abocanhado pelo ensino superior.
Em 96, cada aluno matriculado em universidades públicas no Brasil custou aos cofres públicos US$ 14.303 -gasto acima da média dos países da OCDE, onde cada aluno custou US$ 8.871.
Ou seja, o mesmo dinheiro gasto para pagar um ano de estudo de um aluno de universidade pública no Brasil é suficiente para financiar quase 17 alunos do ensino fundamental.
Entre todos os países pesquisados, só EUA (US$ 19,9 mil), Suíça (18,3 mil) e Malásia (US$ 14,5 mil) gastaram mais com alunos do ensino superior do que o Brasil.
O Uruguai, que investe no ensino fundamental valor per capita um pouco maior do que o Brasil (US$ 920 contra US$ 870), gasta um valor 84% menor com cada aluno de universidade (US$ 2.289 a US$ 14.303).
Para o ministro Paulo Renato Souza (Educação), um dos motivos da desproporção é a baixa produtividade das universidades brasileiras. A média de alunos por professor nas universidades públicas e privadas no Brasil é de 11,8. A média nos 29 países-membros é de 14,6 alunos por docente.
Outra explicação do ministro é que o país tem muito mais crianças em idade escolar do que os demais pesquisados. "Nosso sistema é um sistema de massas, que abriga uma população superior à da Argentina e quase do mesmo tamanho da da França ou da Itália. Se dividirmos o montante de recursos disponíveis pela imensidão de alunos que temos na escola, o valor per capita vai cair."
Ele afirma que, em sua gestão, os investimentos com educação básica aumentaram muito, o que o levantamento, por ter coberto os anos de 95 e 96, não refletiu.
Para Maria Helena Guimarães, presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), a porcentagem do PIB gasta com o ensino superior é "vergonhosa". "O que o Brasil gasta com educação superior é muito elevado, comparado ao que gasta com o 1º e 2º graus."
Segundo a presidente do Inep, o gasto com a educação básica só aumentará quando for corrigido o fluxo escolar. "Dos 36 milhões de alunos do ensino fundamental, 8,5 milhões têm mais de 14 anos e já deveriam estar no ensino médio. Se não houvesse essa distorção, teríamos só 28,5 milhões. Ou seja, 30% a mais de recursos."


Colaboraram Betina Bernardes, da Sucursal de Brasília, e Priscila Lambert, da Reportagem Local



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