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ANÁLISE
Números trazem informações, não dizem tudo
FERNANDO ROSSETTI
da Reportagem Local
Especialistas em estatística costumam recorrer a uma brincadeira para mostrar a fragilidade dessa ciência: "Bem torturados, os números dizem o que você quiser."
Essa afirmação deve ser levada em conta ao ler os dados apresentados ontem pelo MEC. Não que os números sejam falsos -para entrar no relatório da OCDE, esses dados passaram por um rigoroso tratamento estatístico. Mas eles podem dizer coisas bem diferentes.
A comparação de salários de professores em diversos países, por exemplo, é sempre sujeita a erros de interpretação. Alguns países pagam o trabalho do professor fora da sala de aula; outros pagam apenas a hora/aula.
A composição do custo de vida também varia muito, provocando distorções na leitura dos números. Em um país o professor universitário põe o seu filho em uma boa escola pública e não gasta nada com isso; em outro, esse mesmo professor teria de pagar uma escola particular.
Mesmo o cálculo da porcentagem do PIB gasta com educação é sujeita a uma série de variáveis.
Diante desse quadro de incertezas estatísticas, o que mais chama a atenção é que praticamente todos os números apresentados corroboram a política que o ministro Paulo Renato Souza vem implantando.
A máxima do grupo que está no MEC desde 95 é que o Brasil investe muito em educação, mas investe mal. Em uma leitura superficial dos dados chega-se à mesma conclusão (o percentual do PIB em educação é superior ao da média da OCDE, mas os resultados, inferiores).
Grupos de esquerda vêm questionando há anos o cálculo do governo sobre o investimento do país em educação, para mostrar que o Brasil investe menos do que precisa -ou seja, esses grupos "torturam" os números para o outro lado.
O MEC também tem se esforçado para demonstrar que as universidades públicas são um fardo pesado para o contribuinte -e pede mais eficiência.
As universidades, por sua vez, tentam mostrar que estão trabalhando no limite. A divergência de cálculo do custo/aluno é gritante: para o MEC, US$ 14,3 mil por ano; para os reitores, pouco mais de US$ 5 mil.
Um inclui hospitais universitários e aposentados. Outro, não. Como os sistemas de ensino superior, de atendimento à saúde e de previdência são diferentes de país para país, não há certo e errado nesses cálculos.
Enfim, o relatório da OCDE traz informações importantes, que podem nortear as políticas educacionais do país. Mas ele não deve ser lido sem contextualizar quem produziu esses indicadores e quais as propostas políticas desse grupo.
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