São Paulo, terça, 24 de novembro de 1998

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MANÍACO DO PARQUE
Acusado agora diz ter cometido mais crimes, mas não há como condená-lo em 5 dos 11 casos admitidos antes
Só há provas contra motoboy em 6 casos

SÍLVIA CORRÊA
da Reportagem Local

Após quatro meses de investigações, a Polícia Civil ainda não reuniu provas suficientes para acusar o motoboy Francisco de Assis Pereira, 30, por 5 dos 11 assassinatos que ele admitiu oficialmente ter praticado no parque do Estado (zona sudoeste de SP). Em dois dos casos, nem os corpos das vítimas foram encontrados.
Sem solução para esses crimes, a polícia não descarta que outras supostas dezenas de assassinatos que Pereira agora diz ter praticado tenham o mesmo destino: a insuficiência de provas.
Até agora, a investigação da polícia tem dependido de confissões. "Podendo existir outras vítimas, temos de investigar", disse o delegado Jurandir Corrêa de Sant'Anna, diretor da Divisão de Homicídios. "Mas, se ele não falar dos crimes, um a um, vai ser difícil obter prova. Já está sendo difícil."
Nos crimes considerados resolvidos, a confissão detalhada do motoboy foi determinante para o desfecho dos casos.

Dificuldades
Os dois corpos não encontrados pertenceriam a uma patinadora conhecida como Pitucha e a uma babá que Pereira identificou como "Elenilda ou algo semelhante".
Nesses casos, a polícia indica quatro caminhos para as investigações: o surgimento de famílias reclamando por garotas desaparecidas, a localização de testemunhas, a confissão detalhada do motoboy (com nome e local do corpo) e novas buscas na mata. As buscas não têm data marcada.
Em outros três casos, os corpos já foram encontrados, mas não há provas consistentes que liguem o motoboy às vítimas (veja quadro).
A polícia alega que eram cadáveres em putrefação, quase esqueletos, o que já impede a produção de algumas provas. "Não é possível, por exemplo, fazer o confronto de arcada dentária com mordidas nos corpos, identificar presença de esperma ou determinar a causa da morte dessas mulheres", diz o delegado Sant'Anna.
Além dessas provas, faltam ao DHPP a confissão do motoboy (que diz não se lembrar das vítimas) ou o surgimento de um objeto ou de um depoimento que liguem as mulheres a Pereira.
Em outros seis assassinatos, a polícia obteve pelo menos uma dessas provas (veja quadro).
Apesar da falta de provas, os inquéritos dessas três mortes chegaram a ser finalizados e relatados ao Ministério Público. Dias depois, no entanto, foram devolvidos pelo promotor Edilson Bonfim para novas diligências que sustentem a denúncia do motoboy à Justiça.
Na devolução, Bonfim pediu que Pereira fosse interrogado novamente, o que deve ocorrer entre quinta e sexta. Ele pediu ainda que fosse ouvido um ex-namorado de Elizângela Francisco da Silva, que a teria visto com um homem em um shopping de São Paulo no dia de seu desaparecimento.
O rapaz esteve no DHPP semana passada e não reconheceu Pereira.

Mais mortes
No interrogatório do final da semana, Pereira será questionado também sobre a existência de outras vítimas. A polícia passou a considerar a hipótese a partir de uma entrevista com o acusado que a Rede Globo exibiu domingo.
Além disso, a polícia promete agora rastrear as cidades onde Pereira morou, atrás de desaparecidas. Isso até hoje não foi feito.
"É um caso de repercussão e os próprios delegados enviaram as ocorrências quando surgiu alguma suspeita", disse Sant'Anna.
A polícia afirma, no entanto, que o esforço pode ser em vão, se o motoboy não der detalhes das mortes. "O tempo e a falta de testemunhas dificultam as provas."



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