São Paulo, segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

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"Nunca tinha tido aula de inglês", diz aluna que mudou para escola particular

DA SUCURSAL DO RIO

No início deste mês, o Pisa (exame internacional que compara o desempenho de alunos) mostrou que o Brasil apresentou, entre 35 nações onde foi possível fazer essa comparação, a maior desigualdade entre a escola pública e a privada. A estudante Érika Correia, 16, comprovou isso na prática.
Há dois anos, graças a uma bolsa integral para bons alunos de escolas públicas, ela trocou a Escola Municipal Francisco Cabrita, na Tijuca (zona norte do Rio), pelo colégio particular Mopi, no mesmo bairro.
"As notas de minha filha eram muito boas, mas eu sabia que a educação do município estava fraca demais. Quando ela entrou para a nova escola, na oitava série, começaram a surgir as dificuldades", diz a mãe de Érika, Fátima Correia.
Para não ficar para trás em relação aos colegas, a adolescente teve de se esforçar em dobro. Acostumada a uma carga horária de cinco horas, teve de praticamente dobrar o tempo dedicado aos estudos.
Pela manhã, estudava quase seis horas. À tarde, recuperava a matéria defasada em mais três horas de estudo. Nos dias em que não havia monitoria, sua mãe ainda pagava um professor particular.
"É muito mais puxado. Nunca tinha tido aula de inglês no município. Em português, lá eu tinha apenas um professor para dar aula de redação, literatura e gramática. Aqui, é um para cada", diz a adolescente.
A mãe de Érika conta também que sentiu muita diferença no interesse dos pais: "No município, numa turma de 40, apareciam na reunião de pais de cinco a dez, somente. Aqui, eles participam mais, e há uma reunião com cada família".
Foi para reduzir desigualdades como essas que um grupo de moradores de Niterói (RJ) criou a Associação Brasileira de Apoio Complementar à Educação. Um dos objetivos da ONG é, desde o início da educação básica, dar aos alunos carentes de escolas públicas o atendimento extraclasse que filhos de pais de maior renda conseguem com mais facilidade.
A psicopedagoga Lilian Paiva conta que é comum os professores da rede pública, às vezes sobrecarregados com o número de crianças por turma, fazerem diagnósticos errados dos problemas de aprendizado ou não darem soluções adequadas.
Uma dessas situações aconteceu com Júlio Chaffin de Souza, 5, filho de Elaine Chaffin. "A professora disse que meu filho era hiperativo e que não estava conseguindo dar aula por causa dele. Ela então me pediu que o levasse para a escola só depois das 14h. Com isso, ele estava perdendo uma hora de aula [das 13h às 14h] em relação aos demais. Não achei justo." Ela preferiu transferir o filho para outra escola.


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