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"Nunca tinha tido aula de inglês", diz aluna que mudou para escola particular
DA SUCURSAL DO RIO
No início deste mês, o Pisa
(exame internacional que compara o desempenho de alunos)
mostrou que o Brasil apresentou, entre 35 nações onde foi
possível fazer essa comparação,
a maior desigualdade entre a
escola pública e a privada. A estudante Érika Correia, 16, comprovou isso na prática.
Há dois anos, graças a uma
bolsa integral para bons alunos
de escolas públicas, ela trocou a
Escola Municipal Francisco
Cabrita, na Tijuca (zona norte
do Rio), pelo colégio particular
Mopi, no mesmo bairro.
"As notas de minha filha
eram muito boas, mas eu sabia
que a educação do município
estava fraca demais. Quando
ela entrou para a nova escola,
na oitava série, começaram a
surgir as dificuldades", diz a
mãe de Érika, Fátima Correia.
Para não ficar para trás em
relação aos colegas, a adolescente teve de se esforçar em dobro. Acostumada a uma carga
horária de cinco horas, teve de
praticamente dobrar o tempo
dedicado aos estudos.
Pela manhã, estudava quase
seis horas. À tarde, recuperava
a matéria defasada em mais
três horas de estudo. Nos dias
em que não havia monitoria,
sua mãe ainda pagava um professor particular.
"É muito mais puxado. Nunca tinha tido aula de inglês no
município. Em português, lá eu
tinha apenas um professor para
dar aula de redação, literatura e
gramática. Aqui, é um para cada", diz a adolescente.
A mãe de Érika conta também que sentiu muita diferença no interesse dos pais: "No
município, numa turma de 40,
apareciam na reunião de pais
de cinco a dez, somente. Aqui,
eles participam mais, e há uma
reunião com cada família".
Foi para reduzir desigualdades como essas que um grupo
de moradores de Niterói (RJ)
criou a Associação Brasileira de
Apoio Complementar à Educação. Um dos objetivos da ONG
é, desde o início da educação
básica, dar aos alunos carentes
de escolas públicas o atendimento extraclasse que filhos de
pais de maior renda conseguem
com mais facilidade.
A psicopedagoga Lilian Paiva
conta que é comum os professores da rede pública, às vezes
sobrecarregados com o número de crianças por turma, fazerem diagnósticos errados dos
problemas de aprendizado ou
não darem soluções adequadas.
Uma dessas situações aconteceu com Júlio Chaffin de
Souza, 5, filho de Elaine Chaffin. "A professora disse que
meu filho era hiperativo e que
não estava conseguindo dar aula por causa dele. Ela então me
pediu que o levasse para a escola só depois das 14h. Com isso,
ele estava perdendo uma hora
de aula [das 13h às 14h] em relação aos demais. Não achei justo." Ela preferiu transferir o filho para outra escola.
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