São Paulo, quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Anac notifica a Gol e ameaça cancelar vôos da empresa

Agência nacional de aviação determinou que companhia aumente os guichês de check-in

Ontem, a Gol voltou a apresentar atrasos em mais de 50% dos seus 580 vôos, segundo balanço das 22h divulgado pela Infraero

RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
LARISSA GUIMARÃES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO PAULO

A Anac (Agência Nacional da Aviação Civil) notificou ontem a Gol a regularizar o atendimento aos passageiros, após o quarto dia seguido em que os vôos da empresa tiveram atrasos acima da média nacional.
A determinação é que a empresa aumente os postos de check-in nos aeroportos de Cumbica (Guarulhos), do Galeão (Rio) e de Brasília.
Caso os atrasos persistam, o órgão ameaça cortar vôos da Gol, que também controla a Varig. A decisão será tomada em uma reunião com a diretoria da companhia, convocada pela agência para a sexta-feira.
A Folha apurou que o governo concluiu que os problemas nos aeroportos são conseqüência da deficiência da Gol/Varig em atender os passageiros, e não um caos aéreo. Por essa razão, a ordem é mostrar os problemas da companhia e evitar que se dissemine a idéia de que há uma crise aérea.
Ontem, um dia após o ministro Nelson Jobim (Defesa) ter atribuído os atrasos a um corte de funcionários da Gol, sindicatos de profissionais do setor da aviação civil afirmaram que a Anac, órgão ligado à Defesa, sabia do problema havia pelo menos 18 meses. Os sindicalistas dizem ter alertado sobre os efeitos que os cortes teriam sobre os serviços prestados.
A Fentac (Federação Nacional dos Trabalhadores da Aviação Civil) e o SNA (Sindicato Nacional dos Aeroviários) afirmam ter enviado ofícios à agência quando ela ainda era presidida por Milton Zuanazzi.
"A redução de funcionários de algumas empresas aéreas, (...) era fator de contribuição para o apagão aéreo, naquele momento [segundo semestre de 2007]", diz trecho de ofício enviado ontem ao ministério.
A Anac afirmou que não poderia ter evitado que os problemas ocorressem, já que "nenhum órgão regulador pode multar uma empresa privada por conta de demissões". "O que é passível de multa é uma conseqüência de tais demissões que represente uma infração à legislação", afirma nota.
Mesmo com os atrasos, a agência só havia feito uma notificação às empresas por "preterição de passageiros" -problema causado quando uma aeronave precisa ser substituída por uma menor que a prevista para o vôo. A Anac nega que se trate de overbooking.
Até as 22h de ontem, 52,9% dos 580 vôos da Gol e 46,5% dos 159 vôos da Varig tinham atraso, contra 7,6% dos 711 vôos da TAM, principal concorrente da Gol. A Gol e a Varig respondem por quase 40% dos vôos no Brasil, segundo a Anac.
A Gol atribuiu os atrasos de ontem a resquícios do problema enfrentado no final de semana (leia nesta pág.). Anteontem, a empresa afirmara que os problemas "já estão completamente solucionados".
A Fentac estima em 700 o número de profissionais cortados da Gol e da Varig há pelo menos dois meses -cerca de cem deles trabalhavam em Congonhas (São Paulo), outros 70 em Cumbica (Guarulhos) e mais 70 no Galeão (Rio), segundo a diretora-executiva da entidade, Selma Balbino. A Gol informou que, em outubro, tinha 15.831 funcionários.
"A maioria [dos cortados] era ligada a cargos administrativos, mas também houve corte de investimento da Gol em serviços terceirizados, como a operação de equipamentos [que engloba manobra de aeronaves nos pátios, transporte de malas, e limpeza dos aviões].
A Swissport e a Vit Solo, terceirizadas que prestam serviços para a Gol, negam redução do serviço. A Gol também negou redução de seu quadro.
Procurada ontem, a Gol não detalhou quantos de seus funcionários foram cortados nem que áreas foram afetadas.
A Folha solicitou que o Ministério da Defesa detalhasse os cortes, sem sucesso.
A maior parte dos passageiros abordados ontem à tarde em Cumbica antecipou a chegada ao aeroporto, mas a situação no final da tarde era tranqüila. Foi o caso da dona-de-casa Denize Braga, 33, que embarcaria para Recife às 21h05. "Vim mais cedo esperando um movimento muito maior, mas está tudo muito tranqüilo."


Próximo Texto: Passageiro não é obrigado a aceitar troca de dia de vôo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.