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Gilmar Mendes solta Roger Abdelmassih
Especialista em reprodução assistida estava preso preventivamente desde agosto, sob a acusação de estuprar pacientes
Ministro Gilmar Mendes entendeu que, como médico está impedido de exercer a profissão, não há mais sentido em mantê-lo preso
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do Supremo
Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, mandou soltar
ontem à noite o médico Roger
Abdelmassih, preso preventivamente desde 17 de agosto,
sob a acusação de ter cometido
56 estupros contra 39 mulheres que eram suas pacientes.
Abdelmassih é considerado
um dos mais famosos especialistas em reprodução assistida
do país e cobrava até R$ 200
mil por um tratamento, segundo o Ministério Público de São
Paulo, responsável pelas acusações contra o médico.
Para Mendes, a Promotoria
que acusou Abdelmassih havia
pedido a prisão do médico ou
seu impedimento de exercer a
profissão. Como ele já está impedido de atuar desde agosto, o
presidente do Supremo entendeu que não há sentido em
mantê-lo preso.
"O argumento de que, em liberdade, poderia o paciente
voltar a cometer a mesma espécie de delito em sua atividade
profissional assenta-se em mera especulação, sem mínima
base fática", diz a decisão.
O promotor Luiz Henrique
Dal Poz afirmou na noite de ontem que respeita a decisão do
STF, mas que ela veio em um
momento inoportuno. "90% da
fase de instrução do processo já
está concluída", disse.
Segundo ele, a decisão pode
causar instabilidade nas vítimas e testemunhas e também
há risco de o médico fugir. Ele
disse que em nenhum momento foi colocado em condição ou
a prisão do médico ou a sua interdição profissional, pois isso
se trata de uma decisão técnica
que só poderia ser tomada pelo
Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp).
Dal Poz disse que tem esperança de que, na análise do mérito da decisão, o STF mande o
médico de volta para a prisão.
Dias depois de Abdelmassih
ser preso, o Cremesp determinou a suspensão do registro
profissional do médico, proibindo-o de exercer a profissão
até que seu caso seja julgado
pelo conselho.
As investigações contra Abdelmassih começaram no ano
passado, após uma ex-funcionária de sua clínica procurar o
Ministério Público para relatar
que foi atacada pelo médico.
Segundo a mulher, o médico
tentou beijá-la à força.
Após a divulgação do caso pela Folha em janeiro, outras
mulheres procuraram a Promotoria para relatar agressões.
Ao todo, a denúncia à Justiça
aponta 39 mulheres. Algumas
relataram mais de um crime e,
por isso, há 56 acusações.
O médico foi denunciado à
Justiça no dia 13 de agosto, sete
dias após mudança no Código
Penal, que alterou a classificação de estupro, passando a incluir atos antes classificados
como atentado violento ao pudor. Se fosse pela lei anterior,
seriam 53 atentados violentos
ao pudor e três estupros.
Advogados
O habeas corpus que pediu a
libertação de Abdelmassih foi
assinado pelo ex-ministro da
Justiça Marcio Thomaz Bastos,
um de seus advogados. "Essa
decisão do STF é a consagração
de que a liberdade é a regra. Para o acusado primário, bons antecedentes, residência fixa, a liberdade é a regra. Além disso,
essa decisão coloca o processo
dentro da normalidade", disse
José Luis Oliveira Lima, outro
advogado do médico. "Ele está
deprimido", disse o advogado.
Bastos também afirmou que
os tribunais que negaram o pedido de liberdade anteriormente exerceram "odiosa antecipação de pena, contrária ao princípio da não culpabilidade" e
criticou o efeito "midiático" da
prisão do médico.
Antes de conseguir o habeas
corpus, cinco outros pedidos do
médico já haviam sido negados
pela Justiça, um deles do próprio STF. No final de agosto, a
ministra Ellen Gracie analisou
o caso e arquivou a ação proposta pelos advogados.
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