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SP 450
Aos 80, fotógrafo repete programa
DA REPORTAGEM LOCAL
Frederico Sempére já sabe o que
fará na noite de hoje. Munido de
duas câmaras, uma Pentax ME-Super, de 1982, e uma MZ50, mais
moderna, vai ao Vale do Anhangabaú, onde pretende encontrar
um bom lugar para fazer fotos.
O paulistano de 80 anos está repetindo exatamente o programa
que fez há 50 anos, quando, como
fotógrafo amador, andou a cidade
inteira capturando imagens do
que ia vendo. "Só que, naquela
época, eu usava uma Rolleiflex,
que era o xodó dos profissionais e
dos aspirantes, como eu", revela.
"E um flash de mão."
É de sua autoria a foto principal
desta página, que retrata o exato
momento em que os aviões contratados pela prefeitura começavam a despejar pedaços prateados
de papel em forma de triângulo,
no que depois ficaria conhecido
como chuva de prata. "O efeito
dos holofotes refletindo no papel
laminado foi enlouquecedor."
Antes, durante o dia, já havia tirado fotografias da parada -que
aconteceu no mesmo Anhangabaú- da Miami Jackson Band,
uma típica fanfarra norte-americana, com direito ao bloco de metais e às balizas abrindo o desfile.
"Cada menina, rapaz, com uma
saiazinha deste tamanhinho",
empolga-se. "O pessoal ficou louco." E concede: "Na verdade, eu
também". O sr. Frederico não era
casado à época, o que viria a acontecer cinco anos depois -hoje é
pai de dois filhos, "sem netos".
O Anhangabaú que aparece em
suas imagens daquele dia é quase
irreconhecível ao paulistano, a
não ser por construções que já estavam lá antes e que continuaram
depois, como o prédio dos Correios, construído em 1922 pelo escritório de Ramos de Azevedo, e o
edifício Matarazzo (1935), mais
conhecido como Banespinha, que
deve receber o gabinete da prefeita Marta Suplicy a partir de hoje.
O vale de 1954 ligava a avenida 9
de Julho à zona norte, tinha espelho d'água e uma esplanada que
conduzia ao viaduto Maria Paula.
"Não existiam ainda a avenida 23
de Maio, nem a praça das Bandeiras ou a Câmara dos Vereadores,
no Palácio Anchieta."
O sr. Frederico não sabe dizer o
que espera das comemorações de
hoje. "Em 1954, eu tinha 31 anos e
jamais imaginei que chegaria até
aqui vivo", conta, relembrando
que, naquela época, não era comum que os homens ultrapassassem a barreira dos 50 anos. "Mas,
já que estou por aqui, vou aproveitar, não é mesmo?"
(SD)
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