São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE NA SAÚDE

Problema ocorre no mesmo pronto-socorro do Rio que, no dia 19, alugou ar-condicionado por 4 h para visita de ministro

Sem ar-refrigerado, hospital adia cirurgias

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Maior pronto-socorro do país, o Hospital Municipal Souza Aguiar cancelou ontem, pelo segundo dia consecutivo, a realização de cirurgias por causa de um problema no ar-condicionado central do hospital do Rio, que já persiste há mais de 20 dias.
"É um caos. Falta tudo no hospital. De equipamentos ao ar-condicionado, que não funciona. No centro cirúrgico, o calor chega aos 29C, enquanto que na emergência chega aos 33C", disse o deputado Paulo Pinheiro, presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio.
A Comissão de Saúde pedirá hoje a abertura de um inquérito civil para investigar o cancelamento das cirurgias.
No último dia 19, porém, o ministro da Saúde, Saraiva Felipe, não precisou enfrentar o calor ao visitar o hospital. Para recebê-lo, a direção da unidade alugou dez aparelhos de ar-condicionado para serem instalados no auditório por quatro horas. Após a solenidade, o equipamento foi retirado.
Na área interna do hospital, principalmente no acesso à emergência, além do calor, impera a improvisação. Como o setor ambulatorial passa por reforma, os pacientes têm que esperar pelo atendimento em bancos colocados na área externa.
Na mesma área, um pequeno canteiro da obra se transformou em moradia para o pernambucano José Roberto Leite da Silva, 34. Operado na unidade após ser esfaqueado, há duas semanas, ele se recupera da cirurgia ali.
Silva, a mulher e um dos cinco filhos passam todas as manhãs e noites no canteiro. À tarde, todos saem para catar papel na rua, único meio de sobrevivência deles. "Não tenho para onde ir", disse.
Não há conforto algum para quem precisa utilizar a emergência ou o ambulatório. Às 15h de ontem, Elizabete das Chagas Flores, 47, e sua filha Nívea, 18, dormiam no banco da frente de uma ambulância da Secretaria Municipal de Saúde de Resende.
Segundo Flores, elas estavam ali esperando um paciente que era atendido numa sessão de hemodiálise no Souza Aguiar.

Relatório
O deputado Pinheiro diz que também será encaminhado ao Ministério Público um relatório com todas as irregularidades encontradas durante uma visita da comissão à unidade, anteontem. Ele diz ainda que o contrato para a instalação do ar-condicionado não previa a reposição de peças.
"Com esse calor não dá para trabalhar. É esse sofrimento todos os dias", desabafou uma enfermeira, saindo da emergência e enxugando o suor. Além do calor, outro problema é a superlotação na emergência. O setor está com 46 pacientes, o dobro da capacidade.
A Secretaria Municipal de Saúde do Rio informou, por nota, que a refrigeração foi restabelecida ontem em cinco das dez salas do centro cirúrgico. A nota diz ainda que todo o sistema de refrigeração do hospital deve estar recuperado em 15 dias. Até a conclusão desta edição, a secretaria não havia se pronunciado sobre as obras de reforma no ambulatório e os problemas na área interna.


Texto Anterior: Morte no shopping: Testemunhas não reconhecem suspeitos presos
Próximo Texto: Panorâmica - Ceará: Meningite já causou 2 mortes neste ano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.