São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

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MMBB ARQUITETOS

Grupo propõe praça de águas na várzea

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

São Paulo sempre teve uma relação tormentosa com seus rios. Enchente no verão e seca no inverno é uma combinação que se arrasta por mais de um século. Uma praça de águas, um canal construído nas áreas de várzea da cidade para captar as chuvas de verão, teria uma tripla vantagem em relação às propostas tradicionais, segundo o grupo de arquitetos MMBB: a idéia pode ser aplicada a todas as beiras de rio da cidade, criaria um novo tipo de reservatório de águas e dela surgiria um novo tipo de paisagem urbana, uma mescla de recursos de engenharia e de arquitetura.
"Sempre que se pensa na questão da água em São Paulo, a solução sugerida é técnica, não leva em conta a qualidade de vida. A nossa idéia é dar uma feição arquitetônica para esse problema", diz Fernando de Mello Franco, 41, que integra o escritório MMBB junto com Marta Moreira, 43, e Milton Braga, 42.
O trio é um dos mais festejados da nova geração: a garagem que projetaram para o Trianon, na região da avenida Paulista, foi premiada pela 4ª Bienal de Arquitetura, em 1999, e uma escola que desenharam em Campinas repetiu o feito no ano passado.
O grupo não comunga com a idéia pós-moderna de que acabou a era das intervenções em grande escala na cidade. "Isso não é verdade quando você pensa nos rios de São Paulo", defende Marta.
O MMBB fez um projeto de praça das águas para a região da Barra Funda, na zona oeste, onde a saída das indústrias criou um vazio numa área estratégica para a cidade porque fica ao lado do trilho dos trens e da marginal Tietê.
A idéia, no entanto, poderia ser aplicada em uma área que vai do Ceagesp, no Jaguaré (zona oeste), até a Penha (zona leste).
Uma das vantagens de voltar a ocupar a região que vai da Barra Funda ao Jaguaré é que dispõe de uma infra-estrutura (inclusive metrô) que é subutilizada por causa da perda de população. A Barra Funda, por exemplo, tem menos de 10 habitantes por hectare, quando poderia ter uma ocupação seis ou sete vezes maior.
As praças de água foram pensadas como uma solução paisagística, diz Mello Franco. A idéia é que sejam usadas como áreas de lazer; elas poderiam abrigar pedalinhos ou caiaques.
A própria água armazenada poderia ser reutilizada, segundo Mello Franco. Como os canais não teriam comunicação com os rios, as águas poderiam ser tratadas não para se tornarem potável, mas para reúso em limpeza. " Você poderia vender a água", diz ele.
Parceiro de Paulo Mendes da Rocha nos projetos da galeria da Fiesp e do Sesc da 24 de Maio, o grupo MMBB prioriza obras urbanas e busca articular "conhecimentos que andam separados em São Paulo", de acordo com Mello Franco. Os canais de Santos, no litoral paulista, e o Jardim de Alá, que liga a Lagoa Rodrigo de Freitas com o mar no Rio de Janeiro, são os paralelos mais próximos que conhecem no sentido de integrar água e solução arquitetônica.
O projeto para as praças de águas, por exemplo, contou com consultoria de especialistas em recursos hídricos e transportes. "Não é uma idéia voluntarista e epifânica de um arquiteto", diz Mello Franco. Um projeto desse tipo não tem sentido, para ele, se não reunir especialistas que normalmente trabalham isolados.


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