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MMBB ARQUITETOS
Grupo propõe praça de águas na várzea
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
São Paulo sempre teve uma relação tormentosa com seus rios.
Enchente no verão e seca no inverno é uma combinação que se
arrasta por mais de um século.
Uma praça de águas, um canal
construído nas áreas de várzea da
cidade para captar as chuvas de
verão, teria uma tripla vantagem
em relação às propostas tradicionais, segundo o grupo de arquitetos MMBB: a idéia pode ser aplicada a todas as beiras de rio da cidade, criaria um novo tipo de reservatório de águas e dela surgiria
um novo tipo de paisagem urbana, uma mescla de recursos de engenharia e de arquitetura.
"Sempre que se pensa na questão da água em São Paulo, a solução sugerida é técnica, não leva
em conta a qualidade de vida. A
nossa idéia é dar uma feição arquitetônica para esse problema",
diz Fernando de Mello Franco, 41,
que integra o escritório MMBB
junto com Marta Moreira, 43, e
Milton Braga, 42.
O trio é um dos mais festejados
da nova geração: a garagem que
projetaram para o Trianon, na região da avenida Paulista, foi premiada pela 4ª Bienal de Arquitetura, em 1999, e uma escola que
desenharam em Campinas repetiu o feito no ano passado.
O grupo não comunga com a
idéia pós-moderna de que acabou
a era das intervenções em grande
escala na cidade. "Isso não é verdade quando você pensa nos rios
de São Paulo", defende Marta.
O MMBB fez um projeto de praça das águas para a região da Barra Funda, na zona oeste, onde a
saída das indústrias criou um vazio numa área estratégica para a
cidade porque fica ao lado do trilho dos trens e da marginal Tietê.
A idéia, no entanto, poderia ser
aplicada em uma área que vai do
Ceagesp, no Jaguaré (zona oeste),
até a Penha (zona leste).
Uma das vantagens de voltar a
ocupar a região que vai da Barra
Funda ao Jaguaré é que dispõe de
uma infra-estrutura (inclusive
metrô) que é subutilizada por
causa da perda de população. A
Barra Funda, por exemplo, tem
menos de 10 habitantes por hectare, quando poderia ter uma ocupação seis ou sete vezes maior.
As praças de água foram pensadas como uma solução paisagística, diz Mello Franco. A idéia é que
sejam usadas como áreas de lazer;
elas poderiam abrigar pedalinhos
ou caiaques.
A própria água armazenada poderia ser reutilizada, segundo
Mello Franco. Como os canais
não teriam comunicação com os
rios, as águas poderiam ser tratadas não para se tornarem potável,
mas para reúso em limpeza. " Você poderia vender a água", diz ele.
Parceiro de Paulo Mendes da
Rocha nos projetos da galeria da
Fiesp e do Sesc da 24 de Maio, o
grupo MMBB prioriza obras urbanas e busca articular "conhecimentos que andam separados em
São Paulo", de acordo com Mello
Franco. Os canais de Santos, no litoral paulista, e o Jardim de Alá,
que liga a Lagoa Rodrigo de Freitas com o mar no Rio de Janeiro,
são os paralelos mais próximos
que conhecem no sentido de integrar água e solução arquitetônica.
O projeto para as praças de
águas, por exemplo, contou com
consultoria de especialistas em recursos hídricos e transportes.
"Não é uma idéia voluntarista e
epifânica de um arquiteto", diz
Mello Franco. Um projeto desse
tipo não tem sentido, para ele, se
não reunir especialistas que normalmente trabalham isolados.
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