São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009

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SP, 455

Fluxo de pedestres na Paulista cresce 15%

Reforma das calçadas da avenida, a 1ª asfaltada da cidade, fez o número de pessoas circulando a pé passar para 1,2 milhão por dia em 6 meses

Antigo reduto de imigrantes enriquecidos e, depois, de instituições financeiras, via hoje atrai grandes escritórios de advocacia e call centers

Danilo Verpa/Folha Imagem
Avenida Paulista, onde o fluxo de pedestres cresceu 15% em 6 meses

LAURA CAPRIGLIONE
MARIANA BARROS
DA REPORTAGEM LOCAL

Faz cem anos que a cidade de São Paulo recebeu a primeira cobertura asfáltica. Foi quando se substituíram os pedregulhos brancos que recobriam o leito da avenida Paulista por betume importado da Alemanha.
Construída por Joaquim Eugênio de Lima apenas 18 anos antes, a avenida tinha sido projetada para ser o último grito da modernidade -era larga, plana e arborizada (a primeira da cidade). O asfalto, uma novidade até na Europa e nos Estados Unidos, tornou-se o corolário dessa ambição. Começou ali a impermeabilização do solo paulistano (aquela que, quando chegou às várzeas dos rios Pinheiros e Tietê, ajudou a criar as condições para as inundações da cidade).
A primazia do asfalto moldou a vocação da avenida: ela seria dos carros. O escritor Guilherme de Almeida (1890-1969), em seu "Roteiro Sentimental da Cidade de S.Paulo", lembrou-se de descrever o Carnaval esquisito da Paulista: "O corso. Autos particulares. Quase todos "limousines" (...) desfilando, sem um gesto de serpentina, "confetti" ou lança-perfume."
A vocação acentuou-se nos anos 1970, quando os 28 metros originais de largura da avenida foram ampliados para 48 metros, sacrificadas as calçadas e os jardins das mansões.
No aniversário de cem anos do asfalto, porém, levantamento da prefeitura mostra que a avenida movida a gasolina e a diesel começa a reescrever sua história. Em menos de seis meses, cresceu 15% o número de pessoas que passam a pé pela avenida por dia -de pouco mais de 1 milhão de pedestres, a Paulista conta hoje com 1,2 milhão.
Também aumentou a concentração de ciclistas, patinadores, deficientes físicos e skatistas, uma singularidade entre todas as vias urbanas da cidade.
"A Paulista é a única avenida de São Paulo equipada, por exemplo, com um piso tátil que direciona e adverte os deficientes visuais sobre obstáculos durante sua caminhada. Eles ganharam, assim, autonomia para percorrer a pé todos os 2.800 metros de extensão do calçamento", diz a vereadora Mara Gabrilli (PSDB), ela mesma deficiente física.
"À Paulista chega-se a pé, de transporte coletivo, de bicicleta. É uma diferença e tanto do público que chega às nossas outras lojas, todas instaladas em shopping centers", lembra o livreiro Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, que neste ano comemora os 40 anos da loja do Conjunto Nacional, na esquina com a rua Augusta.
A invasão da Paulista por essa população não-poluente foi consequência da reforma que civilizou o calçadão -apesar de ainda haver carros-fortes que sobem no passeio e invasões dos prédios. "Dava nervoso ficar parado em qualquer esquina da Paulista. Aquilo era uma fábrica de tropeços e quedas. Sem contar que era impossível a locomoção de uma cadeira de rodas, por causa dos buracos na calçada", diz o secretário municipal das Subprefeituras, Andrea Matarazzo.
"Revitalizou-se um espaço de convivência democrática na cidade, onde se encontram amigos, cultura, lembranças, interesses", afirma a síndica do Conjunto Nacional, Vilma Peramezza, 67.
Não é uma mudança pequena. Endereço de imigrantes enriquecidos primeiro, depois de sedes bancárias, a Paulista entrou nos anos 80 muito mais pobre -as instituições financeiras migraram para as avenidas Luiz Carlos Berrini e Nova Faria Lima, mais modernas. Lá no espigão ficaram camelôs, moradores de rua e até um edifício "treme-treme".
Hoje, a Paulista abriga 12 dos 50 escritórios de advocacia mais admirados do Brasil (leia texto na pág. C12). Estão lá também as sedes de alguns dos maiores call centers da cidade e escritórios de empresas de todos os setores. São setores que saíram do centro degradado para lá, atraídos pela facilidade de acesso.
Há dez anos, comprava-se uma quitinete sem garagem no edifício Baronesa de Arary (ao lado do parque Trianon e defronte ao Masp) por R$ 7.000. Era o "treme-treme" de que se falou acima. Hoje, não adianta pechinchar, o mesmo imóvel -ainda sem garagem- não sai por menos de R$ 70.000.


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