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PREVENÇÃO
Laboratório estatal fará preservativos masculinos; produtos não serão vendidos em farmácias
Governo prepara produção de camisinha
GABRIELA ATHIAS
da Reportagem Local
O governo brasileiro vai começar a produzir o primeiro preservativo masculino feito por laboratório público, o Farmanguinhos,
da Fundação Oswaldo Cruz. A informação foi confirmada à Folha
pela diretora do laboratório,
Eloan Pinheiros.
A nova camisinha, que deverá
começar a ser fabricada em 14
meses, irá, de acordo com os técnicos do projeto, baratear o custo
do produto e assegurar a constância do fornecimento de preservativos ao Ministério da Saúde.
Além disso, pode aquecer a economia de uma das regiões mais
pobres do país: o látex será extraído dos seringais de Xapuri, no
Acre. A fábrica também será
construída naquele Estado.
Esse preservativo não será vendido em farmácias. Vai ser destinado aos programas de prevenção da AIDS dos Estados, municípios, ONGs e do governo federal.
Eloan, do Farmanguinhos, explica que o Ministério está elaborando o edital da licitação internacional para a aquisição de tecnologia de produção e dos equipamentos. A expectativa é que no
primeiro ano de funcionamento,
a fábrica produza 95 milhões de
unidades, ao custo de US$ 0,03.
O preço mínimo apresentado
por uma empresa na última licitação para a compra de preservativos, na Secretaria Municipal de
São Paulo, foi R$ 0,13.
Pedro Chequer, coordenador
dos programa de DST/AIDS do
Ministério da Saúde, diz que além
do preço menor, a fabricação nacional de camisinha vai agilizar o
fornecimento do produto. Os
processos de licitação internacional podem prolongar-se até por
12 meses, diz Chequer.
É o caso, por exemplo, da última
compra de 200 milhões de camisinhas, feita pelo Ministério, que se
arrasta há mais de um ano. "Se
houver uma crise no mercado internacional, poderemos ficar sem
preservativos e isso não pode
acontecer", diz o coordenador.
"Temos de ser auto-suficientes".
Hoje, o consumo anual do Ministério da Saúde, que fornece
preservativos aos 27 Estados, é de
200 milhões por ano. Eloan diz
que essa demanda deverá ser
atendida no segundo ano de funcionamento da fábrica. Para isso,
o Ministério vai adquirir uma segunda linha de produção. O custo
do projeto, sem os equipamentos
adicionais, é de US$ 3 milhões.
O controle de qualidade do preservativo será feito pelo Instituto
Nacional de Tecnologia, um órgão autorizado pelo Inmetro para
realizar esse tipo de trabalho.
Três laboratórios comerciais fabricam camisinha hoje no Brasil:
Johnson & Johnson, INAL (produção mensal de 7,5 milhões a 8
milhões de unidades/mês) e
Blowtex (escala de 5 a 5,5 milhões/
mês).
Antes de decidir fazer uma fábrica, o Ministério, diz Chequer,
conversou com as indústrias que
produzem camisinha no país. Segundo Chequer, não houve interesse da parte deles em aumentar
a produção. "Seria preciso fazer
investimentos e eles preferiram
continuar importando os preservativos", diz.
A fábrica, que será chamada de
Chico Mendes, em homenagem
ao líder dos seringueiros, assassinado em dezembro de 1988, vai
gerar cem empregos diretos. O
mais importante, diz Carlos Vicente, secretário de Floresta e Extrativismo do Acre, é que vai duplicar a renda das 1.300 famílias
que vivem do extrativismo.
Para funcionar, a fábrica vai
precisar de 17,5 toneladas de látex
líquido por mês. Essa é a forma
mais valorizada dessa matéria
prima.
Seringueiros
Hoje, as cooperativas de seringueiros vendem apenas látex coagulado (conhecido como borracha seca). Parte dessa produção é
comprada por uma usina de beneficiamento que produz o Granulado Escuro Brasileiro, um produto que compõem os pneus. A
outra parte é negociada com atravessadores.
O quilo do látex coagulado é
vendido a R$ 0,90, enquanto um
litro dele em estado líquido vale
R$ 1,35. "Para os seringueiros isso
faz muita diferença", diz Vicente.
A média de produção de uma família seringueira, atualmente, é
de 35 quilos de látex coagulado,
que rende R$ 216 mensais.
Após a implantação da fábrica,
essa renda aumentará em R$ 208
por mês. Esse é o valor atribuído
aos 160 litros de látex líquido, que
deverão ser produzidos por cada
uma dessas famílias.
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