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SAÚDE
Presidente da Alanac diz que preço de medicamento podia ser menor se valores fossem reduzidos na fábrica
Desconto a distribuidor encarece remédio
VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha
O presidente da Alanac (Associação dos Laboratórios Nacionais), Fernando de Castro Marques, afirmou ontem na CPI dos
Medicamentos que o preço dos
remédios poderia ser menor para
o consumidor se a indústria farmacêutica reduzisse os valores na
fábrica, em vez de dar descontos
para as distribuidoras.
O relator da CPI, Ney Lopes
(PFL-RN), defendeu uma política
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Social) "que
privilegie a indústria farmacoquímica". Lopes disse ainda que irá
propor a instalação de uma câmara setorial de medicamentos para
monitorar os preços.
O deputado Geraldo Magela
(PT-DF) perguntou ao empresário por que os laboratórios nacionais não baixavam seus preços de
fábrica aplicando os descontos
que destinam aos distribuidores.
Marques afirmou que eles não
fazem isso porque os laboratórios
multinacionais também não adotam essa medida. O empresário
não quis informar qual é a margem de lucro dos laboratórios.
"Ao assumir que poderia praticar preços reais e que não o faz para agir como os multinacionais,
ele (Marques) mostrou que existe
a formação de um cartel entre nacionais e multinacionais em prejuízo do consumidor", afirmou
Magela.
As despesas com comercialização dos medicamentos são incluídas pelos laboratórios nas planilhas de custo enviadas mensalmente à Secretaria de Acompanhamento Econômico.
Segundo Marques, os laboratórios já contam nos preços final do
remédio que vai sair da fábrica
com os descontos que eles dão a
distribuidoras e farmácias.
De acordo com os deputados da
CPI, o preço final ao consumidor
poderia ser mais baixo porque a
portaria 37 do Ministério da Fazenda determina que o valor máximo que pode ser cobrado pelo
remédio é de 42% sobre o preço
da indústria.
Assim, se o preço de fábrica não
incluísse os descontos que são dados a distribuidores e farmácias, o
valor final do produto poderia
baixar. Os descontos a distribuidores e farmácias chegam, segundo Marques, a 40%, no caso da
Novalgina.
Segundo ele, "é bem provável"
que o laboratório que não faça a
concessão sofra boicote das distribuidoras, porque "diminui a
cadeia de descontos do sistema".
Para Arlindo Chinaglia (PT-SP), "ficou evidente que os preços
são abusivos porque os laboratórios dão descontos altíssimos que,
na verdade, são os lucros extras
das distribuidoras".
Marques reclamou de os laboratórios multinacionais ocuparem 30% do mercado no país. Ele
levou para a CPI 62 medicamentos que eram produzidos no Brasil e que hoje são importados.
Quebra de sigilo
Pelo menos quatro dos 21 laboratórios acusados de formar cartel contra os genéricos colaboraram com o financiamento da
campanha de 94 do presidente
Fernando Henrique Cardoso.
Em 98, um dos laboratórios que
contribuíram em 94 e mais outros
dois fizeram doações para a campanha presidencial.
A Shering-Plough doou, em 94,
R$ 350 mil e, em 98, R$ 400 mil. A
BYK Química e Farmacêutica colaborou com R$ 20 mil na última
campanha presidencial, que teve
ainda a contribuição da Boehringer Ingelheim do Brasil.
Na campanha de 94, fizeram
doações, além da Shering-Plough,
a Roche Químicos e Farmacêuticos (R$ 40 mil), Eurofarma Laboratórios (R$ 18 mil), Biossintética
(R$ 18,2 mil)
O presidente da CPI, Nelson
Marchezan, disse que "o que os
laboratórios fazem com o dinheiro que ganham é problema deles"
e que "se o patrocinado ficar obrigado a defender os interesses do
patrocinador, a Câmara dos Deputados não vai fazer nada porque quase todos os parlamentares
tiveram ajuda (financeira)".
A assessoria de FHC informou
que a quebra de sigilo de laboratórios é problema interno da CPI,
no qual o governo não tem nenhuma interferência.
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