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SAÚDE
Presidente da Alanac diz que preço de medicamento podia ser menor se valores fossem reduzidos na fábrica
Desconto a distribuidor encarece remédio
VALÉRIA DE OLIVEIRA
free-lance para a Folha
O presidente da Alanac (Associação dos Laboratórios Nacionais), Fernando de Castro Marques, afirmou ontem na CPI dos
Medicamentos que o preço dos
remédios poderia ser menor para
o consumidor se a indústria farmacêutica reduzisse os valores na
fábrica, em vez de dar descontos
para as distribuidoras.
Segundo Marques, os laboratórios multinacionais praticam
"grandes descontos e obrigam os
laboratórios nacionais a fazer o
mesmo". A prática é conhecida
como bonificação. Ele citou o
exemplo da Novalgina, que chega
a ter 40% de desconto na venda
para a distribuidora.
O medicamento sai da fábrica
com um preço relativamente alto
porque já prevê o desconto que
será dado posteriormente na venda feita para distribuidoras ou
farmácias.
Esse abatimento que é feito em
cima do preço de fábrica para distribuidoras ou farmácias não é repassado ao consumidor final porque o valor de venda no varejo é
calculado com base no preço de
fábrica.
A portaria 37 do Ministério da
Fazenda determina que o preço
máximo do remédio ao consumidor não pode ser maior que 42%
sobre o valor que sai da indústria.
Marques informou que "é provável" que a empresa que não faça
o desconto seja boicotada pelas
empresas distribuidoras, "porque
quebraria a cadeia de descontos
do sistema".
O representante da Alanac reclamou de os laboratórios multinacionais ocuparem 30% do mercado no país. De acordo com o
empresário, o país importou US$
50 milhões em 90 e US$ 1,4 bilhão
em 99.
O presidente da Abifina (Associação Brasileira da Indústria de
Química Fina), Nelson Brasil, informou que até 90, quando o governo dava incentivo a indústrias
desse setor, o país produzia 134
insumos e que, atualmente, 83%
da matéria-prima usada pelos laboratórios no Brasil vem de fora.
Marques levou para a CPI 62
medicamentos que eram produzidos no Brasil e que hoje são importados.
O relator da CPI, Ney Lopes
(PFL-RN), defendeu uma política
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Social) "que
privilegie a indústria farmacoquímica nacional". Lopes disse ainda
que irá propor a instalação de
uma câmara setorial de medicamentos para monitorar os preços.
Financiamento
Pelo menos seis dos 21 laboratórios acusados de formar cartel
contra os genéricos colaboraram
com o financiamento das campanhas eleitorais de 1994 ou 1998 do
presidente Fernando Henrique
Cardoso.
A Schering-Plough doou, em
94, R$ 350 mil e, em 98, R$ 400
mil. A BYK Química e Farmacêutica colaborou com R$ 20 mil na
última campanha presidencial,
que teve ainda a contribuição da
Boehringer Ingelheim do Brasil.
Na campanha de 94, fizeram
doações, além da Schering-Plough, a Roche Químicos e Farmacêuticos (R$ 40 mil), Eurofarma Laboratórios (R$ 18 mil) e
Biossintética (R$ 18,2 mil).
O deputado Arlindo Chinaglia
(PT-SP) disse que a ajuda dos laboratórios "levanta suspeita de
cumplicidade do governo frente
aos aumentos abusivos (dos medicamentos) e à falta de fiscalização para assegurar qualidade".
Marchezan afirmou que "o que
os laboratórios fazem com o dinheiro que ganham é problema
deles" e que "se o patrocinado ficar obrigado a defender os interesses do patrocinador, a Câmara
dos Deputados não vai fazer nada
porque quase todos os parlamentares tiveram ajuda (financeira)".
Questionada se o fato de laboratórios terem contribuído para a
campanha estaria impedindo a
quebra dos sigilos bancário e telefônico das empresas, a assessoria
de FHC respondeu que esse é um
assunto interno da CPI e que cabe
à comissão tomar suas decisões.
Segundo a assessoria, o governo
não tem nenhuma interferência
nessa questão e, pelo contrário,
tem dado todo o apoio necessário
à CPI.
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