São Paulo, domingo, 25 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Grupos usam assistencialismo para conquistar moradores

DA SUCURSAL DO RIO

As milícias adotam as associações de moradores e práticas assistencialistas como plataformas para obter a simpatia das comunidades onde atuam. As entidades lhes asseguram a legitimidade necessária para fazer pleitos e agir politicamente em prol da localidade.
As duas estratégias são semelhantes às usadas por traficantes. O assistencialismo foi política disseminada por criminosos de drogas no passado, em favelas do Rio -hoje eles se impõem mais pelo terror.
A Folha conversou com dois chefes de milícia -complexo da Palmeirinha (Guadalupe) e Praia de Ramos (Piscinão)/Roquete Pinto- e um "gerente". Nos dois lugares, há distribuição de cestas básicas: 355 na primeira e 130 na segunda, conforme os líderes. O farnel inclui macarrão, arroz, feijão, farinha e sal.
Na Praia de Ramos, controlada há três meses por policiais, shows de artistas como Pique Novo e Bebeto -com cobrança de um quilo de alimentos não perecíveis- arrecadam material para as cestas. Na Palmeirinha, o grupo de policiais disse ter ajudado a pagar a obra de uma creche da prefeitura, cujos trabalhos estavam parados.
Em parceria com as associações, as milícias também doam remédios, promovem festas para crianças e pagam enterros para moradores. Sob a lona do Piscinão -que deve ser trocada por empresa telefônica, a pedido deles- há um parquinho com brinquedos do grupo.
A escolha dos beneficiados com as cestas segue critérios que incluem visita de um integrante da milícia, segundo eles para avaliar a necessidade e dar apenas aos que mais precisam.
Na associação de moradores da Palmeirinha, um cartaz escrito a mão informa: "Remédio só com receita". Os responsáveis pela área dizem que freqüentemente levam de carro moradores até hospitais ou postos de saúde.
Com o apoio da milícia local, a associação de Guadalupe solicitou aos Correios 120 caixas de correspondência. Antes, dizem, os carteiros não entravam na comunidade, deixavam as cartas na associação.


Texto Anterior: Ação de milícias no Rio inclui foto de satélite
Próximo Texto: Chefes querem ter governo como parceiro
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.