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Natália, 14, morre em deslizamento de terra
Jovem assistia à televisão quando a parede da sala desabou sobre ela; chovia na hora do acidente, ocorrido na zona norte da capital
Aniversário da vítima foi no sábado; imóveis próximos ao local do acidente foram interditados pela Defesa Civil por medida de segurança
AMARÍLIS LAGE
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um deslizamento de terra
durante a forte chuva que atingiu São Paulo ontem causou a
morte de uma adolescente, na
zona norte da capital. Natália
Rocha Cabral Araújo estava assistindo à televisão quando a
parede da sala desabou sobre
ela, trazendo consigo a terra e
as bananeiras plantadas no
quintal. A jovem havia completado 14 anos na véspera.
No momento do acidente,
havia outras três crianças na
casa: o irmão e o primo de Natália, além de uma vizinha. Por
acaso, todos saíram da sala
pouco antes do deslizamento.
"O primo dela foi para o quarto;
o irmão, para a cozinha; eu fui
buscar uma maçã na geladeira
-era para a Natália ir buscar,
mas ela disse que estava cansada e pediu que eu fosse", lembra a vizinha, R., 13. Em seguida, conta, parte da casa desmoronou. Os vizinhos conseguiram resgatá-los, mas não encontraram Natália.
A casa foi a única a desabar,
mas, por medida de segurança,
a Defesa Civil interditou os
imóveis próximos, instalados
no alto de uma encosta, ao lado
do córrego Tremembé. Funcionários da Subprefeitura de Jaçanã/Tremembé ofereceram
vagas em albergues, mas grande parte dos moradores decidiu
ficar no local. "Se quiserem me
mandar de volta para a Paraíba,
eu vou na hora. Para albergue,
não. Não vou ficar lá abandonada, como vejo na televisão", disse a empregada doméstica Antonia Gonzaga de Sousa, 46.
Segundo a assessoria da subprefeitura, trata-se de uma
ocupação irregular. O principal
acesso ao local, no qual se vêem
cerca de 30 casas, é por meio de
uma pinguela, composta por
duas tábuas, que sai da rua Calandra, na Vila Germinal. À guisa de apoio, foi instalada em um
dos lados da passagem uma cerca de ripas -o que não impediu
que muitos moradores já tenham caído no córrego.
Às 18h30, um tio de Natália
apareceu do outro lado da ponte. Animado, acenava os braços
e assobiava para os vizinhos.
Rapidamente, espalhou-se a
notícia de que a jovem estava
viva. "Quando os familiares viram que trazíamos a maca e o
material para removê-la, tiveram a impressão de que ela estava viva", disse Sílvio Carlos
Sanches Monteiro, capitão dos
bombeiros. Segundo ele, a jovem já foi encontrada sem vida.
Os moradores só se convenceram do fato quando, às 19h,
os bombeiros cruzaram o córrego, equilibrando por meio de
cordas a maca com Natália.
"É difícil de acreditar. Ontem
mesmo eu estava na festa de
aniversário dela", disse José Ribeiro, 45, que mora perto da
ocupação e diz trabalhar com
serviços informais. "Eu perguntei se ela tinha ganhado
muitos presentes, e ela disse
que não. Aí o pai dela respondeu que o presente dela era
aquela festa, com a família e os
amigos. Essa vida é irônica."
A chuva provocou ao menos
18 pontos de alagamentos na cidade e deixou parte de Perdizes
(zona oeste), Mooca (zona leste) e Morumbi (zona sul) sem
energia elétrica. Para hoje, a
previsão é de sol pela manhã e
pancadas de chuva à tarde.
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