São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Natália, 14, morre em deslizamento de terra

Jovem assistia à televisão quando a parede da sala desabou sobre ela; chovia na hora do acidente, ocorrido na zona norte da capital

Aniversário da vítima foi no sábado; imóveis próximos ao local do acidente foram interditados pela Defesa Civil por medida de segurança

AMARÍLIS LAGE
CLÁUDIA COLLUCCI

DA REPORTAGEM LOCAL

Um deslizamento de terra durante a forte chuva que atingiu São Paulo ontem causou a morte de uma adolescente, na zona norte da capital. Natália Rocha Cabral Araújo estava assistindo à televisão quando a parede da sala desabou sobre ela, trazendo consigo a terra e as bananeiras plantadas no quintal. A jovem havia completado 14 anos na véspera.
No momento do acidente, havia outras três crianças na casa: o irmão e o primo de Natália, além de uma vizinha. Por acaso, todos saíram da sala pouco antes do deslizamento. "O primo dela foi para o quarto; o irmão, para a cozinha; eu fui buscar uma maçã na geladeira -era para a Natália ir buscar, mas ela disse que estava cansada e pediu que eu fosse", lembra a vizinha, R., 13. Em seguida, conta, parte da casa desmoronou. Os vizinhos conseguiram resgatá-los, mas não encontraram Natália.
A casa foi a única a desabar, mas, por medida de segurança, a Defesa Civil interditou os imóveis próximos, instalados no alto de uma encosta, ao lado do córrego Tremembé. Funcionários da Subprefeitura de Jaçanã/Tremembé ofereceram vagas em albergues, mas grande parte dos moradores decidiu ficar no local. "Se quiserem me mandar de volta para a Paraíba, eu vou na hora. Para albergue, não. Não vou ficar lá abandonada, como vejo na televisão", disse a empregada doméstica Antonia Gonzaga de Sousa, 46.
Segundo a assessoria da subprefeitura, trata-se de uma ocupação irregular. O principal acesso ao local, no qual se vêem cerca de 30 casas, é por meio de uma pinguela, composta por duas tábuas, que sai da rua Calandra, na Vila Germinal. À guisa de apoio, foi instalada em um dos lados da passagem uma cerca de ripas -o que não impediu que muitos moradores já tenham caído no córrego.
Às 18h30, um tio de Natália apareceu do outro lado da ponte. Animado, acenava os braços e assobiava para os vizinhos. Rapidamente, espalhou-se a notícia de que a jovem estava viva. "Quando os familiares viram que trazíamos a maca e o material para removê-la, tiveram a impressão de que ela estava viva", disse Sílvio Carlos Sanches Monteiro, capitão dos bombeiros. Segundo ele, a jovem já foi encontrada sem vida.
Os moradores só se convenceram do fato quando, às 19h, os bombeiros cruzaram o córrego, equilibrando por meio de cordas a maca com Natália.
"É difícil de acreditar. Ontem mesmo eu estava na festa de aniversário dela", disse José Ribeiro, 45, que mora perto da ocupação e diz trabalhar com serviços informais. "Eu perguntei se ela tinha ganhado muitos presentes, e ela disse que não. Aí o pai dela respondeu que o presente dela era aquela festa, com a família e os amigos. Essa vida é irônica."
A chuva provocou ao menos 18 pontos de alagamentos na cidade e deixou parte de Perdizes (zona oeste), Mooca (zona leste) e Morumbi (zona sul) sem energia elétrica. Para hoje, a previsão é de sol pela manhã e pancadas de chuva à tarde.


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