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"Marcha do orégano" pede legalização da maconha
Grupo fará ato público no sábado com baseados de orégano, chá ou salsinha
"O nome disso é apologia ao crime", diz promotor que conseguiu impedir a realização da "marcha da maconha" nos 2 últimos anos
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Você está passeando pela
avenida Paulista e de repente
sente um forte aroma de orégano saindo dos baixos do Masp.
Ué? Agora tem pizzaria por
aqui? Nãããão, bró. São apenas
uns malucos, fumando orégano
com o propósito de defender a
legalização da maconha.
Se o Ministério Público não
encrespar (como já fez com outras manifestações pró-descriminalização da canabis), é isso
o que deverá ocorrer no próximo sábado. Os organizadores
do ato público, a maioria estudantes e ex da USP, estão fazendo a convocação pela internet,
em blogs, pelas comunidades.
Reunidos em um coletivo -o
nome é Gandhia, em homenagem ao líder indiano, o Mahatma Gandhi- eles são liberais:
quem preferir, já está avisado,
poderá usar chá em seu baseado simbólico. Ou salsinha.
Segundo Gustavo Vellutini,
23, produtor musical, o objetivo do movimento é acabar com
a "hipocrisia que cerca o consumo de maconha no Brasil". "É
incrível que não se possa reunir
pessoas adultas em um local
público para simplesmente discutir se a forma com que se lida
com essa droga é a melhor para
a sociedade".
Na última terça-feira, o Gandhia se reuniu embaixo do
Masp para traçar suas táticas e
estabelecer o manual de conduta para a ação do sábado. São
cinco os mandamentos: 1) não
porte drogas ilegais no evento;
2) filme tudo (para documentar
e também para servir de prova,
caso o pessoal acabe na polícia;
3) leve o baseado de orégano; 4)
caso tenha antecedentes criminais, lembre-se de que pode haver complicações (um jeito de
dizer: não vá); 5) não provoque
a polícia, não se deixe levar por
provocações, não reaja a uma
possível repressão.
"O nome disso é apologia ao
crime", reagiu o promotor criminal Marcelo Luiz Barone, 44,
ao ser informado pela Folha da
agenda de sábado do grupo. "Se
eles querem discutir, que discutam com quem pode mudar
a lei. Vão para Brasília e conversem com os deputados.
Agora, é absurdo que crianças
sejam obrigadas a assistir a elogios dirigidos a uma droga que
causa dependência e mata."
Barone foi o promotor que,
quando estava à frente do
Gaerpa (Grupo de Atuação Especial de Repressão e Prevenção dos Crimes da Lei Antitóxicos), conseguiu impedir a realização da Marcha da Maconha.
Ele propôs e a Justiça concedeu mandado de segurança em
decisão liminar para impedir as
manifestações marcadas para
2008 e 2009.
Para Caio Yamaguchi Ferreira, 22, estudante do quarto ano
da Faculdade de Direito da
USP, "não se pode proibir o livre debate de ideias, ainda mais
se ele acontece defumado por
orégano, que é um tempero legal, ou por chá mate, que também é legal, até onde eu saiba".
Segundo o fotógrafo Vinicius
Silva, "o modo repressivo de lidar com a questão do consumo
da maconha só tem conseguido
criar uma situação perfeita para o tráfico evoluir. E ainda há o
agravante: legitima uma violência oficial aos pobres sob a
alcunha de "guerra às drogas'".
O promotor Barone não pensa assim. Neste ano, ele não é
mais o responsável pelo Gaerpa, de modo que não caberá a
ele a iniciativa de tentar impedir a realização do ato pró-legalização da canabis. "Mas, se fosse eu, não deixaria." Por Barone, até as cervejinhas deveriam
ser tornadas ilegais. "Está provado que o álcool é porta de entrada para o mundo das drogas,
mas aí entra uma questão cultural, não é?"
O Gandhia promete acender
os baseados de ervas diversas às
16h20, ou 4 e 20 da tarde. Para
os não iniciados na cultura da
"nação canábica", 4 e 20 é um
símbolo. Era nessa hora que,
em 1971, alunos de uma escola
californiana saíam das aulas e
iam puxar "unzinho". No Masp,
será nessa hora que a "nação
oregânica" acenderá seus baseados cheirando a pizza.
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