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PERIGO NO MAR
Setor de exploração de petróleo e gás natural tem média de ocorrências quatro vezes superior à dos demais
Petroleiros têm risco maior de acidentes
GABRIELA ATHIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Cerca de 2% dos trabalhadores
brasileiros da iniciativa privada e
de empresas de capital misto sofrem anualmente algum tipo de
acidente de trabalho. Esse número chega a 8% entre os empregados do setor de petróleo e gás natural, caso da Petrobras.
Os petroleiros brasileiros estão
operando em uma faixa quatro
vezes mais arriscada do que o resto dos trabalhadores brasileiros e
com um nível de risco considerado alto internacionalmente.
Hermano Albuquerque, diretor
do Centro de Estudo em Saúde do
Trabalhador e Ecologia Humana
da Fiocruz (Fundação Oswaldo
Cruz), explica que não há percentuais toleráveis de aceitação de
acidente no trabalho. "A meta é
zero", diz ele.
Entretanto existem indicadores
da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que demonstram a gravidade na frequência
das ocorrências.
No caso do Brasil, por exemplo,
o indicador oficial de acidente de
trabalho (2%) está em um nível
semelhante ao de países industrializados, como Itália, Espanha e
Inglaterra.
Critérios
O problema é que, no Brasil, as
estatísticas somente levam em
conta os trabalhadores do mercado formal, que ficam pelo menos
15 dias afastados do serviço e que
solicitam benefício ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social).
Em 99 (data mais recente das estatísticas consolidadas no país),
dos 19.407.732 trabalhadores brasileiros com carteira assinada
(não estão incluídos funcionários
públicos), 378.365 sofreram algum tipo de acidente de trabalho.
Já entre os 4.454 trabalhadores
da extração de petróleo e gás natural, 360 se envolveram em algum acidente.
Dados da OIT mostram que
anualmente ocorrem 250 milhões
de acidentes no trabalho por ano
e 330 mil mortes. Os prejuízos
econômicos são grandes: equivalem a 4% do PIB (Produto Interno
Bruto) mundial.
Registros
"O problema da estatística dos
acidentes de trabalho no Brasil é a
subnotificação", diz Remígio
Doudeschini, diretor-geral do
Instituto Nacional de Saúde do
Trabalho da CUT (Central Única
dos Trabalhadores).
CUT e Fiocruz trabalham com
um percentual de subnotificação
que consideram "otimista": para
cada acidente registrado haveria
um sem registro.
Doudeschini calcula a subnotificação com base na quantidade
de trabalhadores do mercado informal. "Hoje, 50% dos trabalhadores não são registrados", diz o
diretor da CUT.
"Se no mercado informal ocorrer a mesma quantidade de acidentes do mercado formal, a estatística de acidentes já aumenta
100%", diz ele.
Albuquerque, da Fiocruz, lembra que os trabalhadores informais costumam ter piores condições de trabalho e estão expostos
a riscos maiores.
Mortes
Para Albuquerque, uma boa
pista sobre as subnotificações é a
relação entre os acidentes com e
sem morte que ocorrem anualmente. Enquanto os acidentes
não fatais sofreram uma redução
de 10,2% entre 97 e 99, as mortes
aumentaram 3,9%.
Em 97, foram 421.343 acidentes
contra 378.365 em 99. As mortes
aumentaram de 3.469 para 3.605.
"As empresas até podem não
registrar um acidente, mas é muito difícil esconder uma morte das
estatística oficiais", diz Albuquerque. Além disso, ele lembra que os
ministério do Trabalho e da Previdência Social só registram acidentes de trabalho fatais ou que
provoquem afastamento do serviço por 15 dias ou mais.
Ou seja: se um operário corta a
mão ou os dedos (tipo de acidente
que vitima 25% dos metalúrgicos
de São Bernardo do Campo, em
São Paulo), leva pontos, mas fica
apenas 10 dias afastado, esse acidente não compõe as estatísticas
oficiais do país.
Outro indício de que os acidentes podem estar subestimados é o
registro sobre mortes de trabalhadores do setor petrolífero.
Segundo a estatística oficial, 20
pessoas que trabalhavam com exploração e refino de petróleo
morreram em 98 e 99. Pelos números dos sindicatos, foram 28
mortos apenas em 99 e 85 de 98
até hoje.
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