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O que ocorre depois é um dilema
DA REPORTAGEM LOCAL
Todos aqueles que se tornam
voluntários do Centro de Valorização da Vida enfrentam um dilema permanente: até que ponto o
fato de eles ouvirem o problema
de uma pessoa, conversarem serenamente com ela, argumentarem em torno da importância da
vida, estarem disponíveis para
aceitar seus argumentos resulta
em alguma coisa verdadeiramente positiva?
Será que aquela mulher que disse que iria pular da janela, depois
garantiu que não iria mais e desligou o telefone, de fato desistiu da
idéia? Ou será que pulou? Impossível saber.
"De fato, você nunca tem o
"feedback", não sabe se a crise passou ou não, o que aconteceu com
aquela pessoa", relata o comerciante Nilton, 49, voluntário do
centro há sete anos.
"Mas eu aprendi a não me sentir
impotente por causa disso.
Aprendi apenas a estar disponível
para o outro naquela situação limítrofe que ele está vivendo",
afirma Nilton.
Para o voluntário, a partir do
momento em que ele concluiu
que, para uma pessoa desesperada, "ter alguém disponível é um
luxo", passou a não se sentir mais
"impotente".
Se esse sentimento não ocorre
mais, há outros que afloram inesperadamente.
"Atendi ao telefonema de uma
moça que havia sido violentada e
tinha sido muito machucada. Ela
não tinha com quem conversar,
para quem pedir ajuda, para
quem contar seu drama. Tinha
vergonha de ir a um hospital, procurar a polícia. Passamos muito
tempo conversando, horas, e ela
chorava demais, chorava tanto
que eu acabei chorando junto
com ela."
Mas há casos bem mais difíceis
e que remetem à questão anterior,
que é a de saber o que realmente
aconteceu do outro lado da linha.
É Arthur quem conta:
"Há muito tempo ocorreu um
caso de um voluntário estar conversando com uma pessoa que dizia a todo instante que iria se matar. De repente ela ouviu um baque do outro lado e o telefone ficou mudo. O que aconteceu? A
pessoa de fato se matou? Essa dúvida deixou o voluntário completamente abalado. Ele não sabia se
a pessoa com quem conversava
morreu ou não. Precisou de muita ajuda, principalmente de outros colegas mais experientes, para superar o trauma."
Outro caso muito difícil foi enfrentado pelo próprio Arthur e
que, segundo ele, o marcou demais. Ele se emociona ao fazer o
relato:
"Telefonou uma mulher realmente desesperada, que havia sido abandonada pelo marido com
três filhas pequenas. Ela não tinha
mais dinheiro para nada e, num
lance de desespero total, resolveu
se prostituir, vender o próprio
corpo. Então ela procurou um homem conhecido, para quem fez a
proposta e sugeriu uma certa
quantia. Acontece que ela foi recusada pelo homem, o que aumentou ainda mais sua humilhação. A coisa ficou tão complicada
que a filha mais velha sugeriu que
as quatro se matassem. Você estar
junto a alguém e compartilhar
uma situação dessas é uma coisa
muito intensa. Chega a ser um
momento mágico em que você
atinge o ápice de sua vida em termos de sentimento."
(LC)
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