UOL


São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

Próximo Texto | Índice

JUSTIÇA SOB AMEAÇA

É o segundo magistrado morto no país em dez dias; vítima investigava o crime organizado

Juiz é morto a tiros no Espírito Santo

Fábio Nunes - 7.mar.2003/"A Tribuna"
O juiz Alexandre Martins de Castro Filho, de 32 anos, morto com três tiros na manhã de ontem


FERNANDA KRAKOVICS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA
TIAGO AGUIAR
FREE-LANCE PARA A AGÊNCIA FOLHA

O juiz da 5ª Vara de Execuções Penais do Espírito Santo, Alexandre Martins de Castro Filho, 32, foi morto com três tiros ontem ao chegar a uma academia. O atentado foi feito por dois homens em uma moto em Vila Velha, região metropolitana de Vitória. Levado ao hospital, o juiz morreu às 8h30.
O crime acontece dez dias após o assassinato do juiz-corregedor Antonio José Machado Dias, também morto a tiros, em Presidente Prudente (a 565 km de São Paulo). Suspeita-se que a morte do juiz-corregedor foi a mando do PCC (Primeiro Comando da Capital) como vingança pelo suposto rigor deste nas investigações.
O juiz Alexandre Martins de Castro Filho atuava com a força-tarefa enviada ao Estado no ano passado para investigar a atuação do crime organizado.
O juiz estava sem escolta na hora do atentado. Às 8h, estacionou o seu carro na frente da academia. Ao atravessar a rua, uma moto sem placa com dois homens parou diante do estabelecimento. O homem que estava na garupa caminhou em direção ao juiz, atirando contra Castro Filho.
Segundo testemunhas, sete disparos foram efetuados. Ele foi atingido por três tiros -os disparos acertaram o tórax, a cabeça e o braço esquerdo do juiz.
Os dois homens da moto usavam capacetes na hora do crime. Após efetuar os disparos, os dois tiveram que empurrar a moto para conseguir dar a partida e fugir do local do crime.
O subprocurador da República Roberto Santoro, responsável pelas investigações do Ministério Público no Espírito Santo, afirmou que Castro Filho vinha sofrendo ameaças de morte havia mais de um ano.
Mesmo assim, Castro Filho não temia uma ação contra ele. Em entrevista publicada no jornal capixaba "A Tribuna" anteontem, o juiz dizia não achar que a escolta, determinada por duas vezes pelo governador, fosse necessária.
Castro Filho não acreditava que um assassinato como o do juiz Dias, de São Paulo, pudesse se repetir. "Não vamos nos intimidar por causa desse episódio. Vamos trabalhar ainda mais", disse o juiz na entrevista ao jornal capixaba.

Suspeitos
A Polícia Civil deteve dez pessoas ontem, mas manteve presos quatro suspeitos de terem assassinado o juiz.
Com os suspeitos foram apreendidas uma pistola 7,65 mm, o mesmo calibre da arma que matou o juiz, e uma pistola 0,40 polegada, que pode ser a de uso pessoal de Castro Filho. Segundo o secretário estadual da Segurança Pública, Rodney Miranda, os criminosos roubaram a arma do juiz após ele ter sido atingido pelos tiros.
Também foi apreendida uma moto que pode ter sido a utilizada no crime. "A pistola 0,40 polegada está com a numeração raspada, por isso ainda não foi possível confirmar se é a dele [juiz]", disse.
Entre os quatro suspeitos estão dois sargentos da PM capixaba. Também foram presos dois PMs paulistas que furaram uma blitz policial em Guarapari. Houve troca de tiros e um policial militar do Espírito Santo foi atingido.
Após várias informações desencontradas sobre o motivo de o juiz estar sem escolta, o secretário da Segurança Pública afirmou, à noite, que Castro Filho estava sendo escoltado por um policial civil. Ele teria dispensado a segurança na manhã de ontem.
"Fomos a um churrasco no domingo e ele foi com a escolta. Como o policial deixou ele e a noiva em casa tarde da noite, por volta das 23h, ele disse para o policial só buscá-lo no dia seguinte [ontem] às 11h, porque não sairia antes disso", disse Miranda.

Colaborou EDUARDO DE OLIVEIRA, da Agência Folha


Próximo Texto: Magistrado não estava com escolta policial
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.