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JUSTIÇA SOB AMEAÇA
Presidente reconhece força do crime organizado, mas diz que vencerá essa guerra; ministro da Justiça critica FHC
Lula prevê "combate muito duro" a crime
DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou que o Brasil terá
de enfrentar um "combate muito
duro" para vencer o crime organizado no país. "Quem disse que
nós já tivemos uma tarefa fácil nas
nossas vidas?", contestou, ao declarar que irá vencer a guerra contra o crime organizado.
"Nós não podemos ficar assustados 24 horas por dia. O crime
organizado não é mais a bandidagem comum que nós conhecíamos, é uma indústria de fabricar
dinheiro, com as drogas, com seu
braço empresário, seu braço político, seu braço no Judiciário, seu
braço internacional, tentando
atemorizar as pessoas de bem
neste país", disse Lula para quase
11 mil pessoas, no pátio da montadora Volkswagen, que completou
ontem 50 anos no país.
Logo após pedir um minuto de
silêncio para a paz no mundo, o
presidente iniciou o seu discurso
falando sobre o assassinato do
juiz Alexandre Martins de Castro
Filho. O presidente disse para a
platéia que gostaria de "denunciar" mais um assassinato de juiz,
"o segundo em dez dias".
"Eu não sei quem matou o juiz,
mas vocês podem ter certeza de
uma coisa: se a morte desse juiz,
como a morte do juiz em Presidente Prudente (SP), for uma
ação do crime organizado ou do
narcotráfico, nós vamos ganhar a
guerra", declarou o presidente.
Ao lembrar suas promessas de
campanha, ou "obsessões", como
costuma dizer, Lula disse que
criar empregos, principalmente
para os jovens, é uma das formas
de atacar o crime organizado.
O presidente nacional do PT,
José Genoino, defendeu a montagem no Brasil de uma operação
nos moldes da "mãos limpas",
criada na Itália nos anos 90 para
combater as facções criminosas.
Para ele, essa é a forma mais eficiente contra o crime organizado.
"Temos de montar uma força
tarefa formada pelos governos
municipais e estaduais, pelo governo federal, pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público",
afirmou Genoino.
O presidente da Câmara dos
Deputados, João Paulo Cunha
(PT-SP), afirmou ontem que o
Congresso tem que "dar uma resposta" ao crime organizado e disse que pode ser votado ainda hoje
o projeto de lei que aumenta o
tempo de confinamento de presos que cometerem faltas graves.
O projeto aumenta o limite do
isolamento de 30 para 360 dias. Se
aprovado, ainda vai ao Senado.
Críticas a FHC
Já o ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos, creditou ontem o
recrudescimento da atuação do
crime organizado no país à suposta falta de planejamento estratégico na área da segurança pública durante o governo Fernando
Henrique Cardoso (PSDB).
"Estamos instituindo um plano
nacional de segurança pública, o
que não encontramos quando assumimos o governo. Em oito
anos de governo FHC tivemos
nove ministros da Justiça. Dessa
forma é impossível traçar um plano para o setor", afirmou ontem,
em Vitória.
Como falhas encontradas na
área da segurança pública Bastos
citou a desestruturação da Polícia
Federal, do Poder Judiciário e do
sistema penitenciário, além da
falta de integração entre as polícias Civil e Militar nos Estados.
O ministro da Justiça disse que
uma equipe de inteligência da PF
vai colaborar com a polícia nas investigações sobre o caso.
Para o governador do Estado,
Paulo Hartung (PSB), o assassinato do juiz é uma tentativa de intimidar o trabalho de combate ao
crime organizado que está sendo
desenvolvido no Espírito Santo.
Ele esteve reunido na tarde de ontem para discutir os rumos da política de segurança no Estado.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, JULIA DUAILIBI E FERNANDA KRAKOVICS)
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