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São Paulo, terça-feira, 25 de março de 2003

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JUSTIÇA SOB AMEAÇA

Presidente reconhece força do crime organizado, mas diz que vencerá essa guerra; ministro da Justiça critica FHC

Lula prevê "combate muito duro" a crime

DA REPORTAGEM LOCAL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM VITÓRIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brasil terá de enfrentar um "combate muito duro" para vencer o crime organizado no país. "Quem disse que nós já tivemos uma tarefa fácil nas nossas vidas?", contestou, ao declarar que irá vencer a guerra contra o crime organizado.
"Nós não podemos ficar assustados 24 horas por dia. O crime organizado não é mais a bandidagem comum que nós conhecíamos, é uma indústria de fabricar dinheiro, com as drogas, com seu braço empresário, seu braço político, seu braço no Judiciário, seu braço internacional, tentando atemorizar as pessoas de bem neste país", disse Lula para quase 11 mil pessoas, no pátio da montadora Volkswagen, que completou ontem 50 anos no país.
Logo após pedir um minuto de silêncio para a paz no mundo, o presidente iniciou o seu discurso falando sobre o assassinato do juiz Alexandre Martins de Castro Filho. O presidente disse para a platéia que gostaria de "denunciar" mais um assassinato de juiz, "o segundo em dez dias".
"Eu não sei quem matou o juiz, mas vocês podem ter certeza de uma coisa: se a morte desse juiz, como a morte do juiz em Presidente Prudente (SP), for uma ação do crime organizado ou do narcotráfico, nós vamos ganhar a guerra", declarou o presidente.
Ao lembrar suas promessas de campanha, ou "obsessões", como costuma dizer, Lula disse que criar empregos, principalmente para os jovens, é uma das formas de atacar o crime organizado.
O presidente nacional do PT, José Genoino, defendeu a montagem no Brasil de uma operação nos moldes da "mãos limpas", criada na Itália nos anos 90 para combater as facções criminosas. Para ele, essa é a forma mais eficiente contra o crime organizado.
"Temos de montar uma força tarefa formada pelos governos municipais e estaduais, pelo governo federal, pelo Poder Judiciário e pelo Ministério Público", afirmou Genoino.
O presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), afirmou ontem que o Congresso tem que "dar uma resposta" ao crime organizado e disse que pode ser votado ainda hoje o projeto de lei que aumenta o tempo de confinamento de presos que cometerem faltas graves.
O projeto aumenta o limite do isolamento de 30 para 360 dias. Se aprovado, ainda vai ao Senado.

Críticas a FHC
Já o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, creditou ontem o recrudescimento da atuação do crime organizado no país à suposta falta de planejamento estratégico na área da segurança pública durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
"Estamos instituindo um plano nacional de segurança pública, o que não encontramos quando assumimos o governo. Em oito anos de governo FHC tivemos nove ministros da Justiça. Dessa forma é impossível traçar um plano para o setor", afirmou ontem, em Vitória.
Como falhas encontradas na área da segurança pública Bastos citou a desestruturação da Polícia Federal, do Poder Judiciário e do sistema penitenciário, além da falta de integração entre as polícias Civil e Militar nos Estados.
O ministro da Justiça disse que uma equipe de inteligência da PF vai colaborar com a polícia nas investigações sobre o caso.
Para o governador do Estado, Paulo Hartung (PSB), o assassinato do juiz é uma tentativa de intimidar o trabalho de combate ao crime organizado que está sendo desenvolvido no Espírito Santo. Ele esteve reunido na tarde de ontem para discutir os rumos da política de segurança no Estado.
(JOSÉ ALBERTO BOMBIG, JULIA DUAILIBI E FERNANDA KRAKOVICS)


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