São Paulo, terça-feira, 25 de abril de 2000


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Traficante 'herdou' apelido

da Sucursal do Rio


Marcinho VP, preso ontem no Rio, foi condenado a pelo menos 41 anos de prisão, por homicídio doloso (com intenção) e tráfico de drogas. Sua ficha criminal inclui ainda mais três inquéritos e nove mandados de prisão.
Mas Márcio Amaro não é o Marcinho VP original. Este, Márcio Nepomuceno dos Santos, ex-comandante do tráfico no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio, era considerado muito mais perigoso e está preso na penitenciária Bangu 1.
Mas Márcio Amaro acabou herdando o apelido, já que, no tráfico, VP, de vapor, significa pequeno comerciante de droga.
O Marcinho VP do morro Dona Marta tornou-se conhecido do grande público em 1996, quando o cineasta norte-americano Spike Lee negociou com ele a filmagem de um videoclipe do cantor pop Michael Jackson na favela.
Empolgado com a fama, o traficante afirmou, durante entrevista, que não bebia nem fumava, mas era viciado em matar. No mesmo ano, ele foi preso, mas fugiu sem completar um ano na prisão.
O primeiro contato entre o cineasta João Moreira Salles e Marcinho VP aconteceu em 1995, quando o documentário "Notícias de uma Guerra Particular" ainda era um projeto.
Salles, então na fase de pesquisa para a produção do documentário, conversou com o traficante, que se dizia disposto a contar a sua história como chefe do tráfico no Dona Marta.
Desde então, Marcinho VP e o cineasta passaram a fazer contatos telefônicos e mantiveram o que foi qualificado pelos dois como uma amizade. Salles afirma que pagou R$ 1.200 ao traficante por quatro meses em troca do trabalho de escrever um livro no qual contaria a sua história.
Marcinho VP estava desaparecido desde sua fuga em 97 e, segundo Salles, no último contato entre os dois, estava na Argentina.
A revelação da relação de Salles com Marcinho VP, em fevereiro deste ano, causou uma nova crise na cúpula de segurança do Estado do Rio. Salles está sendo investigado pelo Ministério Público e foi indiciado em inquérito.
Pouco mais de um mês após a revelação, Luiz Eduardo Soares foi demitido da secretaria de Segurança Pública. O governador Anthony Garotinho ligou a demissão diretamente a um suposto acobertamento de Soares à relação entre Salles e Marcinho VP.


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