São Paulo, sexta-feira, 25 de abril de 2008

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Governo afirma que é difícil rastrear abuso de agrotóxico

Alimento passa por vários intermediários até chegar ao consumidor, segundo o Ministério da Agricultura

A Anvisa, que divulgou um relatório apontando excesso de pesticida em alimentos, discorda e diz que nota fiscal indica fonte

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Agricultura alega dificuldade em fiscalizar os alimentos com excesso de agrotóxico por falta de rastreabilidade dos produtos vendidos nos supermercados e avaliados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Ontem, a agência divulgou um relatório apontando que ao menos 40% de amostras de tomate, morango e alface recolhidas em supermercados de 15 Estados e do Distrito Federal, em 2007, estavam com excesso de agrotóxico ou com pesticidas proibidos para a cultura.
De acordo com Leandro Feijó, coordenador de resíduos e contaminantes do Ministério da Agricultura, é "muito difícil" os técnicos das secretarias de Agricultura chegarem, com base nos relatórios da Anvisa, até o produtor que está usando inadequadamente agrotóxicos.
"O principal problema é a falta de rastreabilidade dos produtos recolhidos para análise nas gôndolas dos supermercados, por isso não se consegue chegar até o produtor", afirma Feijó. Segundo ele, a grande quantidade de intermediários do produto até chegar ao consumidor seria a principal causa da dificuldade.

Rastreáveis
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) discorda do ministério. De acordo com Ricardo Velloso, gerente de avaliação de risco da agência, ao menos 60% dos produtos monitorados pelo Para (Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) são passíveis de serem rastreados.
"Os técnicos recolhem a nota fiscal do alimento que será avaliado. Nela há o número do boxe do Ceasa que forneceu o produto ao supermercado. No Ceasa, há uma lista com os fornecedores desses alimentos", explica Velloso.
Feijó diz que, desde 2006, o Ministério da Agricultura criou um outro programa de monitoramento de alimentos que coleta amostras na indústria empacotadora, o que tornaria mais fácil a fiscalização chegar até o produtor.
Até agora, são monitoradas apenas as culturas de mamão e de maçã, mas, segundo ele, novos alimentos devem ser incorporados ao programa a partir deste ano.
Ele afirma que pelo menos um caso já foi denunciado ao Ministério Público: o de um produtor de mamão que estava usando um tipo de agrotóxico proibido no país. As penalidades previstas em lei variam de multas à prisão.

Reavaliação
A Anvisa reavaliará neste ano 14 substâncias ativas que compõem os agrotóxicos, entre as quais quatro que tiveram uso irregular verificado na pesquisa divulgada anteontem.
Um exemplo é o metamidofós, encontrado no tomate de mesa. Esse agrotóxico, proibido na China em 2007, é autorizado apenas para a cultura de tomate industrial, que permite aplicação por via aérea ou trator, evitando que o trabalhador rural seja intoxicado.


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