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Governo afirma que é difícil rastrear abuso de agrotóxico
Alimento passa por vários intermediários até chegar ao consumidor, segundo o Ministério da Agricultura
A Anvisa, que divulgou um relatório apontando excesso de pesticida em alimentos, discorda e diz que nota fiscal indica fonte
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério da Agricultura
alega dificuldade em fiscalizar
os alimentos com excesso de
agrotóxico por falta de rastreabilidade dos produtos vendidos
nos supermercados e avaliados
pela Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária).
Ontem, a agência divulgou
um relatório apontando que ao
menos 40% de amostras de tomate, morango e alface recolhidas em supermercados de 15
Estados e do Distrito Federal,
em 2007, estavam com excesso
de agrotóxico ou com pesticidas proibidos para a cultura.
De acordo com Leandro Feijó, coordenador de resíduos e
contaminantes do Ministério
da Agricultura, é "muito difícil"
os técnicos das secretarias de
Agricultura chegarem, com base nos relatórios da Anvisa, até
o produtor que está usando
inadequadamente agrotóxicos.
"O principal problema é a falta de rastreabilidade dos produtos recolhidos para análise
nas gôndolas dos supermercados, por isso não se consegue
chegar até o produtor", afirma
Feijó. Segundo ele, a grande
quantidade de intermediários
do produto até chegar ao consumidor seria a principal causa
da dificuldade.
Rastreáveis
A Anvisa (Agência Nacional
de Vigilância Sanitária) discorda do ministério. De acordo
com Ricardo Velloso, gerente
de avaliação de risco da agência, ao menos 60% dos produtos monitorados pelo Para
(Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos) são passíveis de serem
rastreados.
"Os técnicos recolhem a nota
fiscal do alimento que será avaliado. Nela há o número do boxe do Ceasa que forneceu o produto ao supermercado. No Ceasa, há uma lista com os fornecedores desses alimentos", explica Velloso.
Feijó diz que, desde 2006, o
Ministério da Agricultura criou
um outro programa de monitoramento de alimentos que coleta amostras na indústria empacotadora, o que tornaria mais
fácil a fiscalização chegar até
o produtor.
Até agora, são monitoradas
apenas as culturas de mamão e
de maçã, mas, segundo ele, novos alimentos devem ser incorporados ao programa a partir
deste ano.
Ele afirma que pelo menos
um caso já foi denunciado ao
Ministério Público: o de um
produtor de mamão que estava
usando um tipo de agrotóxico
proibido no país. As penalidades previstas em lei variam de
multas à prisão.
Reavaliação
A Anvisa reavaliará neste ano
14 substâncias ativas que compõem os agrotóxicos, entre as
quais quatro que tiveram uso
irregular verificado na pesquisa
divulgada anteontem.
Um exemplo é o metamidofós, encontrado no tomate de
mesa. Esse agrotóxico, proibido na China em 2007, é autorizado apenas para a cultura de
tomate industrial, que permite
aplicação por via aérea ou trator, evitando que o trabalhador
rural seja intoxicado.
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