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Pagou, ganhouPor até R$ 7.000, institutos cobram para premiar empresas
Entre as categorias está "Melhor Tratamento contra Estrias"; empresário que tem 11 prêmios diz que 90% das homenagens são pagas
RICARDO GALLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Como uma empresa de qualquer porte faz para receber um
prêmio de melhor em seu setor? Em muitos casos, paga.
Por até R$ 7.000, institutos e
associações cobram para premiar empresas de todo o país,
em categorias que vão de "Melhor Tratamento contra Estrias
2009" a "Destaque no Segmento Elétrico", entre outras.
Os critérios de escolha são
vagos. Em geral, os organizadores dizem seguir indicações de
clientes, fornecedores e conhecidos da eleita. Quem se diz baseado em pesquisas de opinião
não se dispõe a mostrá-las.
As vencedoras são procuradas pelas entidades e informadas de que ganharam o prêmio.
A entrega se dá em jantares.
Ganha-se troféu e/ou certificado, mais selos de "qualidade".
A abrangência extrapola a
fronteira brasileira: há prêmio
que homenageia destaque do
Mercosul e da América Latina.
À Folha ao menos seis empresas admitiram cobrar dos
premiados. Nenhuma, porém,
trata o prêmio como pago -é
"adesão" ou "contribuição".
Parlamentares
Uma das mais conhecidas é a
OPB (Ordem dos Parlamentares do Brasil). A entidade promove o "Top of Quality" e o
"Top of Quality Ambiental".
O prêmio custa R$ 4.500.
Oficialmente, são 1.500 cartilhas para projetos sociais, a R$
3 cada. Mas pode chegar a R$
7.000, conforme recibo obtido
pela Folha. Apesar do nome, a
entidade diz não ter relação político-partidária. O presidente,
Dennys Serrano, é 38º suplente
de deputado federal pelo PSB
(1.296 votos em 2006).
Outra a oferecer prêmio é a
Abach (Academia Brasileira de
Arte, Cultura e História), com
sede no Morumbi (zona oeste).
São R$ 5.000 pelo "Prêmio
Qualidade São Paulo", disse seu
representante a uma escola.
Aos potenciais premiados, a
associação envia memorando
com selo da Secretaria de Estado da Cultura -que disse estar
surpresa e investigaria o caso.
Recorrer a autoridade para
dar autenticidade ao prêmio é
expediente comum. O Cicesp
(Centro de Integração Cultural
e Empresarial de São Paulo)
instituiu a "Cruz do Mérito do
Empreendedor Juscelino Kubitschek" (R$ 5.980). "Nunca
soube que a comenda era paga",
disse Maria Estela Kubitschek,
filha adotiva do ex-presidente,
que já recebeu a comenda.
O valor do prêmio inclui joia
banhada a ouro com rubis e esmeraldas, um certificado da
"Soberana Ordem JK" e dois
convites para um jantar em
Brasília -a solenidade será na
sexta. Segundo o presidente
Regino Barros, a entidade é como um clube, que vende títulos
de sócio. Ainda assim, há, segundo ele, rigor nas indicações.
A Folha conversou com um
empresário de 39 anos que tem
11 prêmios -pelos quais pagou
até R$ 2.000. "90% dos prêmios são pagos. É utopia pensar que não tem custo", disse,
sobre jantares em hotéis de luxo, fora o "ambiente gostoso".
Ele usa as solenidades ("há
gente boa e gente ruim nesse
setor") para fazer negócios.
"Troco cartões com gente com
quem eu nunca teria acesso."
O benefício chega a ser cem
vezes superior ao custo. "Tanto
é que cancelei anúncios da minha empresa em revistas."
Por ser habitué dos eventos,
não param de chegar convites,
diz. "Nos últimos três anos já
recusei 20." Ele foi convidado
ou participou de solenidades
de três entidades citadas.
"Um prêmio você institui para quem tem qualificação, para
quem merece", diz Maria Inês
Dolci, coordenadora institucional da Proteste, entidade de defesa do consumidor. "Além de
ser antiético, induz a consumidor a escolher uma empresa
porque ela ganhou um prêmio
que, na verdade, só pode ser
concretizado pelo pagamento."
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