São Paulo, quinta-feira, 25 de maio de 2000 |
|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
GREVE DO FUNCIONALISMO Professores que aderiram ao movimento não têm intenção de negociar, afirma governo Secretaria decide punir diretores grevistas
GABRIELA ATHIAS DA REPORTAGEM LOCAL A Secretaria de Estado da Educação começou, ontem, a tomar medidas duras contra funcionários que ocupam cargos de confiança que estariam colaborando com a greve dos professores: ou eles estão sendo exonerados ou estimulados a pedir demissão. O secretário-adjunto, Hubért Alquères, diz que os professores que aderiram à greve não têm intenção de negociar. "Quem pede 54% de aumento não quer entrar em acordo", disse Alquères. Anualizado, esse aumento (R$ 2,6 bilhões) é mais do que o governo do Estado investe hoje na área da saúde ( R$ 2,2 bilhões) e oito vezes mais do que destina a novos investimentos na área de educação (R$ 300 milhões). Alquères ressalta que os professores tiveram, em média, 150% de aumento nos últimos quatro anos. Ele reconhece que R$ 650,00 e R$ 1.070 (pisos das duas categorias de professor para 30 e 40 horas de trabalho) não são "salários ideais", mas diz que são maiores do que a media de vencimentos dos trabalhadores de São Paulo. "Nossa luta não é apenas por dinheiro, queremos a melhoria da escola pública", disse Carlos Alberto Ferreira, do comando estadual da greve. A Folha apurou que em Bauru e Araçatuba, municípios onde os professores tradicionalmente apóiam greves e há divergências políticas entre o governo municipal e o estadual, os percentuais de adesão à greve são bem maiores. Nesses dois municípios, a paralisação já atinge 48% da rede. Em Ribeirão Preto, onde o prefeito, Luiz Roberto Jábali (PSDB), enfrenta forte oposição, a greve já chegou a 45%. Nesses locais, há 143.994 alunos matriculados na rede estadual. Alquères confirmou que nesses três municípios o "índice de adesão à greve é grande". O secretário-adjunto declarou que, se o grupo de professores que está acampado na frente da secretaria decidir cercar o prédio e impedir a entrada dos funcionários, a Polícia Militar será chamada. "As pessoas têm o direito de vir trabalhar", disse. Ontem, 150 professores cadastraram-se para dormir no acampamento, que já conta com 26 barracas e banheiros. Na hora do almoço, os professores precisam controlar o acesso de pedintes e mendigos que vivem nos arredores da Praça da República, onde foi montado o acampamento, que tentam conseguir uma "quentinha" com comida. "É um circo de horror produzido pelo governo", disse Ferreira, do comando de greve. Demissões A demissão, a pedido, do diretor regional de ensino de Mauá, Dárcio Aristides Cerezoli, ocorreu depois de ele contrariar determinações do governo e negociar com grevistas que invadiram o prédio da delegacia, no dia 11. Atendendo ao pedido dos grevistas, Cerezoli teria convocado os 102 diretores de escola da sua região para que eles participassem de uma conversa com o comando regional de greve na delegacia. "Os diretores foram constrangidos", disse Hubért Alquères, secretário-adjunto. Exoneração A Folha apurou que ontem à tarde a secretária da Educação, Rose Neubauer, decidiu exonerar o diretor da região central de São Paulo, João Massarico, ao saber que ele havia "liberado o ponto" dos grevistas. Por volta das 16h, ela chegou a assinar o ofício que seria enviado ao governador Mário Covas, solicitando a exoneração. Uma hora depois, Massarico protocolou um pedido de férias, que adiou a demissão. Alquères diz estar "tranquilo" em relação à manifestação de hoje na frente do Palácio dos Bandeirantes. Ferreira, do comando de greve, diz que "ninguém quer guerra", mas afirma que o governador Mário Covas vem dando demonstrações de desequilíbrio ao mostrar a língua e gesticular para os manifestantes. "O povo acaba fincando com raiva dele." Texto Anterior: Polícia identifica grupos com armas Próximo Texto: Demitido diz que só conversou com grevistas Índice |
|