São Paulo, terça-feira, 25 de maio de 2004

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MENOR INFRATOR

Desde o início do ano, já houve três fugas com mais de cem internos envolvidos; direção suspeita de funcionários

Febem tem média de três fugitivos por dia

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Três internos fogem por dia das unidades da Febem (Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) de São Paulo. A média em 2004 -de janeiro a 15 de maio- é a maior nesse período desde 2000, segundo os dados disponíveis da fundação.
Dos últimos cinco anos, a Febem diz que só não tem contabilizado o total de fugitivos de 2002 -esse levantamento seria concluído só em 15 dias. Apesar do aumento do número de fugitivos na instituição -cerca de 50% são recapturados, segundo a Febem-, o registro de episódios de fuga caiu nos últimos anos.
A contradição tem um explicação: fugas em massa. As ocorrências diminuíram nas unidades, só que o número de fugitivos por episódio é cada vez maior.
A Febem afirma que as fugas em massa -em 2004, três episódios superaram os cem fugitivos- demonstram organização interna dos jovens e indícios de conivência por parte de funcionários da instituição. O Sintraemfa (sindicato dos funcionários) nega o envolvimento de agentes e culpa a falta de estrutura nas unidades, principalmente déficit de pessoal.
De 1º de janeiro até o último dia 15, ocorreram 22 episódios de fuga, totalizando 428 foragidos -média de 19,5 internos por fuga. Em 2000, 487 conseguiram escapar de janeiro até o final de maio, em 172 ocorrências -média de 2,8 fugitivos por caso.
No final de março passado, 109 escaparam do complexo "Franquinho", em Franco da Rocha (Grande SP). Dez dias depois, mais 128 fugiram. No último dia 15, no complexo da Vila Maria (zona norte de SP), 105 internos avançaram sobre os agentes e saíram pelo portão da frente. Do lado de fora, em carros e uma moto, homens armados davam cobertura.
Segundo a assessoria da Febem, a investigação sobre os dois episódios em "Franquinho" revelou "indícios fortes" de envolvimento de funcionários -23 foram afastados-, mas a sindicância ainda não foi concluída.
Nesse caso, a Febem também admite fragilidade na estrutura da unidade, mas afirma que uma reforma está em andamento.
O presidente da Febem, Marcos Antônio Monteiro, informou, por meio de sua assessoria, que a fuga em massa na Vila Maria foi "atípica", por causa do apoio externo.
Mas ele também disse que o "cavalo doido" -quando internos se organizam em grandes grupos para fugir- realizado no mesmo horário da chegada dos homens armados mostra uma sincronia que só é possível com informações passadas por funcionários ou por familiares de internos.
Em todo o ano de 2003, foi registrada apenas uma ocorrência com mais de cem fugitivos. Em abril daquele ano, 121 internos escaparam da unidade 30 de Franco da Rocha -já fechada.
Mas os números do ano passado já evidenciam a tendência de registro de ocorrências com maior número de fugitivos.
De janeiro a 15 de maio de 2003, 401 internos escaparam em 25 episódios -16 jovens por ocorrência. Era a maior média de foragidos por ocorrência até então, superando inclusive os dados do ano de 2000.


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